24 de junho de 2012
Aeroporto, avenidas perimetrais e banda de música
SEVERINO CABRAL FILHO
Tenho acompanhado com bastante interesse os artigos escritos por Francisco Sales Cataxo e José Antonio de Albuquerque. Esses dois cidadãos, de conhecido e merecido prestígio na cidade e região, têm trazido aos seus leitores, acertadamente, problemas estruturais pelos quais passa a nossa cidade de Cajazeiras. Ao mesmo tempo em que os diagnosticam apontam soluções para as suas respectivas soluções.
José Antonio de Albuquerque, professor de História e comerciante, e Francisco Sales Cartaxo, economista, têm uma considerável formação humanista; são grandes conhecedores da política da terra do Padre Rolim assim como da política brasileira, de suas virtudes e de seus flagelos. Participam ativamente do recente Movimento dos Amigos de Cajazeiras (M.A.C.) em nome do qual intervêm contributivamente para o encaminhamento de propostas que visam ampliar as possibilidades de nossa cidade, sobretudo em sua dimensão estrutural.
A viabilização definitiva do aeroporto de Cajazeiras e a construção de avenidas perimetrais com vistas a melhorar o acesso à cidade e a conseqüente desobstrução do seu trânsito são temas bem recorrentes na análise e nas sugestões de Zé Antônio e de Frassales. Claro que não são os únicos: a política e a história de Cajazeiras são temas sobre os quais eles se debruçam sempre; estão atentos à criação de novas possibilidades que dêem mais amplitude e dinâmica à economia cajazeirense. Não há dúvidas que estamos falando de projetos relevantes posto dizerem respeito a possibilidades maiores de geração de empregos e de renda para uma população que, em grande medida, é reconhecidamente carente.
Seria “chover no molhado” afirmar que sem desenvolvimento econômico não há desenvolvimento social; seria igualmente redundante afirmar que sem desenvolvimento cultural também não há desenvolvimento social pleno, e para essa temática sensível eu gostaria de voltar-me agora.
Um dos nossos maiores mitos de fundação diz respeito exatamente à educação e à cultura; mito que pode ser traduzido naquela velha e boa máxima que nos faz crer, de geração a geração, que somos filhos da “terra que ensinou a Paraíba a ler”, frase que impregna o nosso inconsciente coletivo e – por que não dizer? – nos enche a todos nós, cajazeirenses, de uma certa vaidade. Recentemente, Frassales, baseado em competente pesquisa histórica, escreveu dois artigos justificando as razões históricas e políticas dessa que talvez seja a nossa maior e mais conhecida frase identitária. Esses artigos foram publicados no blog “Sete Candeeiros Cajá”.
Há alguns anos eu ouvia de pessoas respeitáveis de Cajazeiras que a nossa cidade era “a terra do já teve”, cantilena desairosa a lamentar o que estávamos perdendo em termos de instituições (por exemplo, a Coletoria Federal, transferida para a cidade de Sousa); em termos de saúde (a precarização do Hospital Regional de Cajazeiras) e em termos educacionais (com o dramático declínio da qualidade da nossa formação escolar e todos os óbvios reflexos negativos daí decorrentes). Bem recentemente, a instalação pela Universidade Federal de Campina Grande de um curso de medicina em Cajazeiras parece ter significado um retorno de nossa auto-estima, da revalorização do “espírito cajazeirense” – muito embora seja de lamentar que, a partir daí, os preços praticados em quase todos os setores do comércio local, particularmente no setor imobiliário, tenham alcançado patamares jamais imaginados (pelo menos por mim). A implantação e/ou ampliação de unidades privadas de ensino básico, médio e superior, assim como escolas de línguas, de informática e outras tais parecem ter se configurado também como indícios dessa retomada do desenvolvimento educacional de Cajazeiras – o que é muito positivo, evidentemente.
Mas, a quantas anda a nossa cultura? Sabemos todos que nossa cidade já foi um palco importante de eventos e manifestações culturais de fôlego (festivais de teatro, de poesia, de música, de violeiros, cantadores e repentistas, de artesanato, etc.) que marcaram época e contribuíram para acentuar uma outra frase identitária que nos é comum embora seja menos reivindicada: “Cajazeiras, terra da cultura”.
Não faço aqui nenhum exercício de saudosismo, mas como não lembrar a importância sócio-cultural das inesquecíveis semanas universitárias de Cajazeiras, que já nos advertiam, em seu hino, que o evento significava “integração da cultura, do esporte e da diversão do universitário com o homem do sertão”?
As pessoas de minha geração sabem a importância que tinham os grupos escolares e os colégios – particularmente os da rede pública, onde sempre estudei – para a formação e para o estímulo às artes. Duvido que algum dos alunos e alunas que estudaram no então Grupo Escolar D. Moisés Coelho, entre 1969 e 1973, não tenha participado de pequenas peças de teatro, grupos de música, festivais de poesia, competição de redação, mesmo que celebrando datas festivas nacionais ou locais. Isso era algo caro a dona Lindalva Claudino Martins, nossa diretora, e a um ótimo grupo de professoras. Recordo o incentivo delas, a sua presença constante na “direção” desses pequenos espetáculos que protagonizávamos para nós mesmos e para a nossa escola. Havia até mesmo o requinte de termos aulas de música, cujo professor era um pastor da Igreja Batista de Cajazeiras, de quem recordo como se ele estivesse me falando agora, mas não consigo lembrar-lhe o nome.
SEVERINO CABRAL FILHO É FILHO DE SEU SAORA E DE DONA ANTONIA E CAJAZEIRENSE DA GEMA
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