CLEMILDO BRUNET
Carnaval - maior festa do mundo, ninguém sabe ao certo quando começou. Historiadores e pesquisadores afirmam que não tem como provar quando nasceu o carnaval. Existe apenas uma estimativa que seu ponto inicial tenha sido durante o reinado de pisistrato na Grécia entre 605 a 527 A.C.. Várias histórias são contadas de povos diferentes, o que dificulta a descoberta de uma data exata.
O carnaval é marcado em nosso calendário pela Igreja Católica que se baseia na data da páscoa. No início não houve aceitação do carnaval pelo cristianismo que constatou uma festa com características libertinas e pecaminosas.
Desde 590 D.C. a Igreja adotou oficialmente esta festa, passando desde então, a programar seu calendário. Aqui no Brasil, o Carnaval é uma festa de âmbito nacional adquirindo formas próprias e distintas em cada região. Os navegadores portugueses davam início aos festejos carnavalescos com o entrudo.
O festim originário da Índia consistia em uma “guerra” de excrementos, talcos e ovos jogados do alto das casas ou nas praças. Outra brincadeira: Os farristas agarravam um desafortunado qualquer, tiravam-lhe a roupa, davam um banho frio e o devolviam à rua. Assim eram os festejos na Bahia e no Rio de Janeiro, em fevereiro do século XIX. (Caderno dois/ Correio da Paraíba (21-02-2004).
Pombal - carnaval que o tempo levou...
Pombal sesquicentenário, cidade de velhos costumes e tradições históricas já foi ponto referencial no passado de melhor carnaval do sertão. Na nossa cidade os blocos que mais se destacaram na década de 70 do século XX foram: O Formigão, Bloco do Sujo, Fuleragem, Caga- Fogo, Brasinha, Descarados, Antártica e o Fôiará, que só saia as terças feiras à tardinha.
O Fôiará foi um bloco idealizado por Marcos Antonio Junqueira, técnico de rádio, mais conhecido por “Mastõe”. Era formado por pessoas pobres, não podiam pagar uma fantasia e por isso se vestiam de folhas de mato para desfilar ao redor das Praças Getúlio Vargas e Centenária. A noite não participava dos bailes noturnos, no entanto, na sua exibição trazia alegria para o centro da cidade. É o único bloco que ainda hoje, entre um carnaval e outro faz o seu percurso na festa de momo em Pombal.
Há muito tempo o Carnaval perdeu sua identidade. O Frevo do Recife e as marchinhas do Rio de Janeiro, pouco a pouco foram perdendo lugar para o axé-music da Bahia e outros gêneros e ritmos inventados por lá. O carnaval fora de época, começando essa prática pela Bahia com a Micareta, chegando à Paraíba em Campina Grande com a Micarande e em Pombal inicialmente como Micabal, depois passando a ser chamado de Pombal Fest; tendo apresentação dos blocos dentro do cordão de isolamento, puxados ao som do trio elétrico, onde só participa o folião que estiver fantasiado com as cores que identifique a logomarca do seu grupo. Tudo isso e mais o fator econômico de nossa gente, arrefeceu em muito o interesse pelo carnaval conservador de outras épocas.
Outra curiosidade que nos chama atenção em referência aos carnavais antigos dos anos 60 e 70 são as nossas gravadoras. Naquele tempo, três meses antes do carnaval, as gravadoras reuniam todo seu elenco e encomendavam aos cantores, músicos e compositores a prepararem o repertório musical para a Festa de momo. Davam ampla divulgação dessas músicas pelo rádio e o folião fazia coro com a orquestra que animava o baile de carnaval.
Eu costumo chamar o carnaval antigo de Pombal. O carnaval das famílias. Cada grupo de pessoas formava seu bloco e produzia suas fantasias. Época dos confetes e serpentinas, do lança-perfume spray, embora proibido, havia sempre um ou mais foliões, que discretamente faziam uso, espargia o líquido no lenço e levava ao nariz para o porre, passando depois de mãos em mãos para repetirem o gesto.
Alegria começava logo cedo no domingo pela manhã com o entrudo, o molha, molha, dando banho nas pessoas, não havia nem um contratempo, pois só eram molhados aqueles que se encontravam brincando.
Cansei de presenciar nos bailes noturnos que eram realizados no Pombal Ideal Clube (baile dos ricos) a época, e na Sede Operária (baile dos pobres), as diferenças partidárias desaparecerem, reunindo as maiores lideranças políticas antagônicas do Município, abraçados e pulando no meio do salão.
Quão maravilhosas eram as tardes de carnaval em Pombal com a realização do corso, o Serviço de Alto Falantes “Lord Amplificador” reproduzindo as músicas carnavalescas da época e os veículos automotores, preferencialmente Jipe sem capota, tendo sua lotação completa de foliões fantasiados de colombinas, pierrôs e palhaços.
Famílias tradicionais de nossa cidade davam esse colorido especial ao carnaval de rua, percorrendo as principais avenidas e vias de acessos a Praça Getúlio Vargas, Praça Centenária e a Rua Cel. José Fernandes (rua do rio).
A Festa de momo em Pombal era feita de forma voluntária, segundo depoimentos que pude colher em enquete junto a foliões que se sentiram a vontade para contar essa história.
Bloco dos Sujos
Manoel Bandeira (saudosa memória) funcionário público federal aposentado, fundador e comandante do bloco do sujo, me disse que: Os foliões agregados ao seu grupo faziam de forma voluntária. Sua exibição era somente durante os festejos de rua e quando convidado adentravam as residências dos amigos para os comes e bebes.
Havia uma Kombi abastecida de bebida e comida, que os conduzia a vários locais da cidade e na hora da distribuição desses gêneros, todos de maneira harmoniosa obedeciam à fila.
Bloco Formigão
José Severo de Sousa (Zuca), empresário no ramo de funerária e guarda do fisco estadual aposentado. Ele fazia parte do bloco “O Formigão”, pertencente à família Formiga, que tinha como chefe do clã seu Chiquinho Formiga. Seu Zuca me disse que mesmo não sendo da família, mas, apenas amigo, foi convidado para o bloco.
Pude ver em seu rosto alegria de falar da união existente entre os membros dessa agremiação carnavalesca formada por vinte casais. Este bloco marcava presença nos bailes e matinês do Pombal Ideal Clube. A cada exibição do “Formigão” uma fantasia diferente, disse ele, que até hoje guarda ainda algumas dessas fantasias, doces lembranças de carnavais passados em sua vida.
Bloco Brasinha
O Bloco Brasinha tendo como símbolo a figura de um diabinho, foi organizado por jovens da sociedade pombalense. Segundo um de seus organizadores, Joaquim Adonias Dantas Neto (Saburá), desde a sua fundação e durante quatro anos, esse bloco era composto apenas por elementos do sexo masculino. A sede para as reuniões e preparativos de saída do bloco ficava na antiga casa grande na rua nova, onde funcionou o Diretório Municipal do PMDB, atualmente é o edifício do Banco do Brasil de nossa cidade. Para o ingresso do folião a esse grupo havia o que eles chamavam de batismo, que constava de arrubacão regado a cachaça as margens do rio Piancó na sexta feira que precedia o carnaval.
No sábado em arrastão o Brasinha, saia pelo comercio local pedindo bebida e outros apetrechos para brincar o carnaval. Durante os dias da festa de momo, esse bloco percorria as Palhoças Panatí, hoje no local, está o Hotel Rio Verde e a de Joaquim Sales a beira do rio a cinco quilômetros da cidade.
A noite participava dos bailes no Pombal Ideal Club e de madrugada renovava sua energia tomando caldo de mocotó na residência de Eufrásio dos Santos, indo depois para o banho matinal na casa de seu Lelé, pai do escritor Verneck Abrantes. Chegou a ser um dos maiores blocos carnavalescos da cidade, tendo alcançado o maior número de participantes, (60) sessenta casais.
Bloco Caga-Fogo
Outro depoimento é do folião de velhos carnavais de Pombal, cidadão José Arruda dos Santos, funcionário publico federal aposentado. Ele fez parte do bloco Caga-fogo – apelido dado aos jogadores de dominó composto por doze amigos que gostavam desse hobby. Na sua avaliação os carnavais daquela época eram tranquilos ao compasso das marchinhas, frevos e samba muito diferente do que acontece hoje.
José Arruda exaltou ainda a forma harmoniosa como os blocos se postavam em suas apresentações nos bailes do Pombal Ideal Clube. Entre os componentes do seu bloco estavam: Dr. Saraiva, (saudosa memória), Dr. Carrinho, Mauricinho, Zequinha Arruda, Dr. Nicácio Coutinho e Fiel, (os dois últimos já falecidos).
Assim era o Carnaval ou velhos e antigos carnavais da terra de Maringá, reminiscências de um passado harmonioso que fica para registro da história.
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