Lúcia Rolim
Falar sobre Dr. Waldemar... que tarefa!!! Que desafio!!!
Acha que estou exagerando? Não senhor.... É um desafio, sim! Não é fácil escolher um assunto no “universo Waldemar Pires Ferreira”. Principalmente para quem teve o prazer de conviver com ele desde o nascimento ( foi meu pediatra ) passando pela adolescência (foi meu psicólogo) e na vida adulta (foi meu psiquiatra, meu pai e, acima de tudo, meu amigo!).
Não quero falar do Dr.Waldemar que eu convivi na intimidade, do amigo e pai. Perdoem-me o egoísmo, mas, essa parte eu quero guardar para mim. Quero lembrar o apóstolo da medicina!
Nascido em uma família tradicional e abastada, recebeu a melhor educação que o dinheiro podia pagar. Sua biblioteca era riquíssima; a maioria dos livros (que ele relia periodicamente) era em inglês ou francês – línguas que ele dominava tal qual o português.
Poderia ter se tornado um “playboy”? Sim... era moda nos anos 50! E os atributos necessários não lhe faltavam: dinheiro e “boa-pinta”. Até a política andou flertando com ele... Foi candidato a vereador e teve mais votos que o candidato a prefeito! Mas nada o fascinava mais que a medicina. Tanto, que fez dela não sua profissão, mas um apostolado!
- O médico dos pobres! Diziam. Dr. Waldemar não foi só “o médico dos pobres”; foi o médico dos que padeciam – pobres ou ricos – não importava.
Quando vejo nos jornais e na televisão reportagens mostrando o caos na saúde, e gente sofrendo em macas nos corredores de hospitais lotados, não posso deixar de lembrar de Cajazeiras, algumas décadas atrás. A cidade não era nenhuma metrópole e não tínhamos nenhum sistema de saúde futurista ou exemplar. Mas quando alguém adoecia... o telefone (288) tocava na casa de Dr. Waldemar!
Quantas vezes eu mesma atendia às ligações ... Dr. Waldemar pegava a maletinha, entrava no fusquinha branco e ia atender ao “chamado”. Isso mesmo, ia consultar o doente em casa (ou onde ele estivesse). Dia e hora, não importava; se a pessoa que necessitava dos seus cuidados era pobre ou rica, muito menos! Mas, se o cidadão fosse pobre, depois da consulta, ele perguntava se podia comprar os remédios. Se a resposta fosse negativa, ele dava amostras grátis que sempre levava no fusca. Quando não tinha “amostra” que servisse para a doença do paciente, ele tirava o dinheiro do bolso e dava para que os remédios fossem comprados.
Procurava sempre se atualizar sobre os preços dos medicamentos nas farmácias. Quando ia receitar um remédio, dizia:
- Esse custa “tanto”; mas esse outro faz o mesmo efeito e custa menos – É gente, Dr. Waldemar foi o “idealizador” dos genéricos!
Certa vez, fui acometida de uma febre repentina, com dor nas costas que não conseguia respirar. Minha mãe, desesperada, chamou Dr. Waldemar, que rapidamente chegou. Depois de me examinar (sem radiografias, ecografias, e mais um montão de “...fias” que os médicos pedem) ele deu o diagnóstico: era grave. A doença não lembro, mas o nome dela era tão complexo, que achei que estava a meio caminho do cemitério. Minha mãe foi logo perguntando se deveria me levar para João Pessoa. Dr. Waldemar garantiu que não seria necessário. Trataria ali mesmo, só queria que todos saíssem do quarto para aplicar a medicação. E começou o tratamento: um comprimidinho azedinho e muita água. Algum tempo depois, outro comprimidinho azedinho e muita água; e isso se repetiu por cerca de quatro horas. Depois desse tempo, não tinha mais febre nem dor: estava curada! Então ele me fez prometer não dizer a ninguém o nome do remédio pois, segundo ele, iriam dizer que ele estava louco.
Louco não, Dr. Waldemar, como estudioso que era, o senhor sabia o que muitos nem imaginavam.... Quando, há dois anos, tive um princípio de infarto, durante o período que passei internada no Hospital do Coração em Brasília, a medicação que me foi aplicada foi o mesmo comprimidinho azedinho que o senhor me deu naquele dia: MELHORAL INFANTIL.
Lucia Rolim é jornalista cajazeirense radicada em Brasília.
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