20 de janeiro de 2013

Entre Pombal e Maringá, o que há?


DERMIVAL MOREIRA

Cuiabá é uma grande coxa de retalhos. Aqui vive gente de todo o Brasil, principalmente da Região Sul. Eu mesmo constato no dia a dia em mais de 2 anos trabalhando no atendimento de uma agência bancária local. Quando a conversa assume tons mais amenos, alguns clientes não resistem em me perguntar de qual estado do nordeste eu sou devido ao meu forte sotaque. Numa dessas, uma senhora paranaense me falou que sua cidade, Maringá, no Paraná, teria sido fundada por paraibanos, ou que, na pior das hipóteses, sua construção estava ligada à presença de imigrantes do sertão nordestino no norte daquele estado, atraídos pela colheita do café. Fiquei interessado na conversa e ao mesmo tempo curioso, pois jamais ouvira alguém falar disso antes. Na verdade eu sempre quis investigar a ligação do nome daquela cidade paranaense à cidade de Pombal, conhecida no Nordeste como “a Terra de Maringá”. A afirmação daquela mulher acabou por atiçar minha curiosidade me fazendo crer que havia alguma conexão, por mínima que fosse. De um lado, Pombal, no sertão paraibano, com quase 200 anos de vida e história; de outro, Maringá, 300 mil habitantes, pouco mais de 70 anos de emancipação política e muita prosperidade. Entre as duas, muitas diferenças e 3.600 km separando-as.

Em minhas hipóteses sobre a questão nunca considerei uma música, gravada nos anos 30, como possível conexão. Eu partia do princípio de que nessa história não havia música, pois uma coisa não teria nada a ver com a outra. Engano meu! A música a qual me refiro é “Maringá... maringá...”, composta por Joubert de Carvalho, que fez muito sucesso na voz de Carlos Galhardo e gravada por dezenas de outros cantores em fim dos anos 30 e 40. Mas, e os imigrantes paraibanos? o que teriam a ver com a fundação de Maringá como afirmou a mulher na agência? Ou, ao menos, com o “batismo” da cidade?

A cidade de Maringá, no Paraná, é resultado de um projeto da colonizadora Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, que fundou uma vila que desse suporte logístico à atividade cafeeira, e onde operários e agricultores (locais e imigrantes) que ali trabalhavam, pudessem ser instalados. Muitos daqueles homens eram nordestinos do interior da Paraíba. Por esse mesmo tempo a música de Joubert de Carvalho fazia muito sucesso e era entoada pelos trabalhadores saudosos de sua terra natal e de suas amadas, nos cafezais paranaenses.

Em 1947, Elizabeth Thomas, esposa do presidente da citada Companhia, sugeriu que a composição, tão presente no dia-a-dia daquele lugar, desse nome à vila recém construída pela empresa. Uma espécie de homenagem, muito mais dirigida às centenas de trabalhadores que não se cansavam de cantá-la durante o labor diário, do que à música em si. E assim se fez! O mais comum no mundo inteiro, são as cidades emprestarem seus nomes a canções; difícil é uma canção inspirar o nome de um lugar. O título da música acabou emprestando o nome à futura cidade que logo se tornaria uma das mais prósperas de toda a Região Sul.

Relativamente à música, esta teria sido escrita na presença do Ministro de Viação e Obras Públicas, do governo Getúlio Vargas, José Américo de Almeida, e de seu Oficial de Gabinete, Ruy Carneiro. Joubert de Carvalho, que era médico, aspirava um cargo público no Rio de Janeiro e fora apresentado aos políticos paraibanos por um amigo comum. O compositor resolveu agradar o ministro compondo uma música retratando o flagelo da seca, associando-a também ao romantismo e à lenda envolvendo uma tal “Maria” - a mítica cabocla retirante que teria vivido em Pombal no início do século XX. Na busca de elementos para a composição, o autor perguntou aos ilustres paraibanos de onde eles eram. Como Areia e Pombal, terras natal do Ministro e de seu assessor, respectivamente, não soavam bem para a rima, os três “percorreram” vários nomes de cidades paraibanas, até que alguém falou “Ingá”. – Pronto! - Falou Joubert de Carvalho – a “Maria” vai ser do Ingá. E surgiu o título da música.

Quanto aos paraibanos, é razoável afirmar da participação destes na construção da vila que daria origem à cidade. Embora na história de Maringá, as palavras “nordestinos” e “paraibanos”, não sejam citadas (talvez por preconceito), não há como negar a influência e presença desses imigrantes por ocasião de sua construção. Dados afirmam que, no seu início, a população de Maringá era em sua maioria formada por nordestinos e paulistas que trabalhavam na colheita do café. Corroborando com essa idéia, a música de Joubert de Carvalho vem reforçar a hipótese da participação, direta ou não, dos nossos irmãos conterrâneos na fundação daquela importante cidade paranaense.

DERMIVAL MOREIRA É BANCÁRIO E LICENCIADO EM GEOGRAFIA

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