17 de dezembro de 2010

Morre o médico e ex-prefeito Epitácio Leite Rolim

O médico, ex-deputado e ex-prefeito de Cajazeiras Epitácio Leite Rolim, 81, morreu por volta de 12h30 da sexta-feira, 17, no Hospital Samaritano, em João Pessoa, onde submetia-se a tratamento por conta de um câncer no estômago. Deixa viúva a ex-deputada Zarinha Gadelha Leite. O casal tem dois filhos: a advogada Patrícia e o médico Epitácio Filho.

A seguir, a transcrição de texto publicado na revista Oba nº 21, de setembro de 2003, de autoria da jornalista Cristina Moura:

Mais vivo do que nunca

A textura da história de Epitácio guarda as macias plantações de algodão e as reconfortantes poltronas do poder político. E assim ele vai relembrando e aguardando os bons e novos ventos, agora no PPS

Nas secas trilhas do sítio Boa Fé, estava a fé de um menino que começava a entender o princípio do trabalho. Era ele, filho de José Leite Rolim, Seu Zuca, e Tertulina Bandeira de Sousa, Dona Terta. É ele, Epitácio Leite Rolim. Agricultor, médico, político, gente do povo. Tudo isso ele carrega nas veias acostumadas com a gratidão, palavra ou sentimento ou prática que ele faz questão de enfatizar no seu vocabulário interior.

O Boa Fé, paragem eminentemente rural do município de Cachoeira dos Índios, era um reduto de um pequeno reduto ligado a Cajazeiras quando o menino Epitácio nasceu. Seu Zuca era dono de 13 fazendas, comprador de algodão e ensinava aos onze filhos a honrar a cultura da subsistência. Milho, feijão e arroz no plantio, portanto, não precisavam estar na agenda. Já estavam mais do que enraizados, além da safra algodoeira. “Eu me orgulho de dizer que comecei a vida pegando na enxada”, afirma Epitácio, com a bravura extraída, ao certo, de homem do campo.

O primeiro professor, Seu João Roque, foi contratado exclusivamente para a garotada do fazendeiro. Todos tinham que trabalhar, mas o abecedário era mais do que um imperativo. Aos oito anos de idade, Epitácio veio conhecer uma cidade grande. “Grande”, na ocasião mais do que ingênua e infantil. Era a Cajazeiras de Padre Rolim. Depois de passar pelo crivo do professor Anselmo Chaves, o garoto entrou no Salesiano. Era quando sua família decidiu morar mais perto da cidade, no sítio Picada.

Começou a adolescência colegial na cidade do Crato-CE. Foi onde também serviu ao Exército. A ida para outras paisagens um tanto mais desenvolvidas foi obra e graça da mãe, que acabou convencendo o chefe da família. O amadurecimento de Epitácio viria com o ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Mas o rapaz já estava sentindo o tempero baiano um ano antes, quando cursou o último ano do segundo grau no Colégio Ipiranga. E com um detalhe para ele inigualável: na sala onde foi morto o poeta abolicionista Castro Alves.

Foi do segundo para o terceiro ano de Medicina que ele descobriu que gostaria de se especializar no que já era, como aspirante em Clínica Cirúrgica Infantil e Ortopédica. Após haver recusado convites para atuar como médico já formado, em cidades da Bahia e do Maranhão, Epitácio decidiu pelo destino que se cumpriria. Rumou para Cajazeiras e começou a clinicar no Hospital Regional. “Ser médico é cuidar com amor e carinho do semelhante”, define.

No cardápio
Sob os tentadores convites dos colegas e amigos, entrou com o pé direito na política. Ganhou para vice-prefeito pela UDN, mesmo o seu companheiro de grupo tendo perdido, o médico Sabino Guimarães. O prefeito eleito foi médico também: Otacílio Jurema, pelo PTB. “Tivemos uma convivência amistosa. Mais amistosa, impossível”, revelou.

O sonho calado de ser prefeito viria em seu lugar de origem, assim que este passou a ser cidade. Cachoeira dos Índios receberia Epitácio de braços abertíssimos, com 80% da votação, em 1961, contra o valente “Capitão Cajazeiras”, conhecido pelas peripécias na região. Dois anos depois, passou o posto para o seu vice, Josa Moreira, e foi eleito deputado estadual, pela Arena. O terceiro mais votado do Estado da Paraíba. “Riam de mim... Mangavam... Perguntavam se existia essa cidade, Cachoeira dos Índios. Eu respondia que sim, que era a primeira, a primeira de quem vem do Ceará. Aí todo mundo caía na gaitada...”, conta. Foi neste mesmo espaço de tempo que se apaixonou por Maria do Rosário Gadelha Sarmento Leite, Zarinha, com quem teve dois filhos: Epitácio Filho, médico ortopedista, residindo em Recife-PE, e Patrícia, advogada, residindo em João Pessoa.

Através de um pomposo pedido do governador João Agripino para que fosse derrotado o próximo candidato a prefeito de Cajazeiras, o comerciante Raimundo Ferreira, Epitácio cedeu. Disputou junto com o agropecuarista e odontólogo Abdiel Rolim e ganhou com uma maioria de três mil votos. Exatamente de 1971 a 1981 passou longe da política. Segundo ele, “foi quando ganhou dinheiro sendo médico” e comprou o curto patrimônio que hoje nem faz menção em ostentar. Em 1982, ao vencer mais uma vez para a Prefeitura, construiria uma concorrência ferrenha que se tornaria gigante anos mais tarde, com o médico (por sinal de especialidade afim) Antônio Vituriano de Abreu.

Perdas e reparos
Epitácio só conheceu o desgaste de uma tarefa derrotada em 1992, quando assistiu a vitória do empresário José Nello Zerinho Rodrigues. Mas, dois anos depois, lavou o seu peito com aproximadamente 10.300 votos para deputado estadual pelo PFL, partido que abraçara com uma legião de admiradores e correligionários.

O período de 1996 a 2000 foi o último mandato de Epitácio na administração municipal de Cajazeiras, ao lado de Sinézio Martins. Coincidiu, na reta final, com o mandato da sua esposa, também pefelista, como deputada estadual. O segundo insucesso veio com a candidatura a deputado estadual, no ano passado, tendo que rivalizar com mais quatro candidatos dentro do seu próprio terreiro: Vituriano, Zerinho, Padre Francivaldo e José Aldemir - este o único eleito dos cinco. “Vontade de disputar para federal eu sempre tive, só nunca tive foi dinheiro. Edme Tavares sempre foi meu apoio histórico”, relembrou.

O fato de ter apoiado o atual prefeito cajazeirense, Carlos Antônio, e depois este ter carimbado no seu currículo o compromisso de apoiar mais quatro (somente à exceção de Vituriano), foi responsável pelo desgaste de Epitácio em relação às expectativas na política.

Com uma vida pública marcada pela assistência aos mais carentes, ele já foi taxado de “assistencialista” e de “atrasado”, entretanto, não deixa de se assumir como um “desiludido” e um “decepcionado”. “Dignidade e honestidade são requisitos para poucos. Já fui muito chamado de idiota por isso, mas não me importo. O futuro a Deus pertence. Sobre Ele, fico com a definição da Maçonaria. É o grande arquiteto do universo, o mestre dos mestres”, diz, lamentando uma ação não totalmente realizada, a Creche Escola Pé no Chão, que chegou a atender 900 crianças, mas que deveria ter chegado a duas mil. Uma das obras das quais o ex-prefeito mais festeja é o Colégio Comercial, hoje em parceria com o Governo do Estado.


O velório será no Memorial Esperança, seguido de homenagens na Prefeitura e na Câmara Municipal de Cajazeiras, onde acontece Sessão Especial. Em seguida acontecerá o sepultamento.


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