O que une e ao mesmo distancia duas irmãs é o questionamento que tem instigado a atriz e diretora Marcélia Cartaxo. Foi por conta desses questionamentos encontrados na literatura do português Nuno Milagre, que ela resolveu enfrentar o desafio de dirigir Meias Irmãs, peça que deve estrear em setembro desse ano, reunindo no mesmo trabalho a experiência de Marcélia e o vigor de duas atrizes da nova geração: Kaline Brito e Janaina Araújo. As leituras começaram e o ritmo de três dias dedicados a compreensão do universo das duas irmãs deve ser ampliado para cinco devido à necessidade de ir para a montagem em si com marcações, iluminação e cenários.
Meias Irmãs conta relação de duas mulheres, uma cantora e uma secretária do serviço público que se afastam porque a primeira cai na estrada para desenvolver seu ofício enquanto a segunda assume o fardo de "cuidar" da família. A temática "laços familiares" tem sido constante na trajetória de Marcélia, que desde Woyzeck, o Brasileiro, em 2002, não fazia trabalhos relacionados ao teatro. E dessa vez será todo feito na Paraíba.
O desafio que Marcélia Cartaxo se propõe agora é, de certa forma, o de driblar as narrativas nordestinas e focar nos dramas humanos. "O espetáculo não é focado no nordestino ou expressivamente cultural do Nordeste e sim mais moderno. Vai ser a minha cara e mais universal falando do que une essas duas meias irmãs e o que com a aproximidade repentina as separa devido às diferenças", explica ao lembrar a diferença entre as paixões pelo teatro e cinema. "O cinema é um prazer imenso, mas passa tão rápido. De repente ganhei uma cabaça com chita e montei um santuário em miniatura e comecei a brincar com dois bonecos. Foi dessa magia e de começar a me acender a ideia da magia que é o teatro e quando tive contato com a obra de Nuno Milagre não tive dúvida que queria contar essa história".
Enquanto Meias Irmãs está em fase de processo criativo e a captação de recursos, Marcélia Cartaxo encontra tempo para a pré-produção do curta De Lua, que ela vai dirigir. A ideia é contar a história de um rapaz que quando criança brincava com a lua nas várias saídas com a mãe, que era lavadeira. O cenário? Marcélia não abre mão que seja uma comunidade daquelas com casas iguais possivelmente no Agreste paraibano. "Com o tempo a gente vai querendo registrar as coisas que vive ou lembra. Em Cajazeiras, lá em casa, a gente tinha lavadeira e todo esse universo. É também um espaço para pesquisa da vida", reforça.
Reportagem de Wagner Lima no jornal O Norte
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