O Ensino Superior chegou há pelo menos 40 anos, sendo a cidade uma das pioneiras no Interior nordestino a receber cursos de graduação
Avanço do setor educacional na cidade de Cajazeiras está apenas começando, mudando o perfil econômico local
O município tem mais de 65 mil habitantes. Com 797 estabelecimentos varejistas, 27 atacadistas e 56 de serviços, Cajazeiras hoje avança no setor terciário, tendo nele 90% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Por mais que localizado em uma região de terras férteis, não foi pela agricultura que o município começou a despontar como um polo de desenvolvimento. Foi pela educação. Tão clara é essa constatação que ela é conhecida como "a cidade que ensinou a Paraíba a ler". E o avanço do setor educacional parece ainda estar no início, mas as quatro universidades já instaladas contribuíram para gerar uma movimentação de pessoas e negócios por lá que está mudando o perfil econômico da localidade.
Do algodão, antiga fonte geradora de divisas do município, não sobrou nada. O bicudo, maior praga da cotonicultura, acabou com tudo. Vocação industrial Cajazeiras nunca teve, e, pelo menos até agora, não avançou na agricultura.
"A mola propulsora é a educação. A cidade cresceu em torno dela, e tem crescido de forma avassaladora. Crescimento no comércio e na construção civil", afirma o presidente da Associação Comercial e Industrial de Cajazeiras (Acic), José Antônio de Albuquerque. O ´boom´, relembra, foi há cerca de 10 anos.
O ensino superior chegou há mais tempo, há cerca de 40 anos, sendo a cidade uma das pioneiras no interior nordestino a receber cursos de graduação. Mas foi na ultima década que houve o incremento de universidades e cursos na cidade. Hoje, são cerca de sete mil estudantes universitários em Cajazeiras, que se expande, horizontal e verticalmente. E destes, destaca Albuquerque, que também é professor da Universidade, somente dois mil são do próprio município. Gente de várias cidades e estados se direcionam para aquela cidade sertaneja.
Alunos de outros estados
No campus da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Cajazeiras, por exemplo, a maioria dos alunos vem do Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. "Poucos são da Paraíba e da Bahia", informa o vice-diretor Osmar Luiz da Silva. Na instituição, cerca de 2.400 alunos estudam enfermagem, medicina, matemática, biologia e química, física, língua inglesa, historia, pedagogia, geografia, além da formação de técnico em saúde bucal e em enfermagem.
Saúde tem maior demanda
"Medicina e Enfermagem trazem uma demanda muito grande. Pela procura, surgiram as particulares. Cajazeiras é um polo do semiárido, está se moldando para isso", defende Osmar. Por conta disso, a universidade já está tentando fortalecer a área de saúde com novos cursos, como fisioterapia e terapia ocupacional. "Esta já é uma cidade universitária", afirma.
Novo ritmo para a região
Estes estudantes, juntamente com aqueles de outras universidades, estão dando um novo ritmo àquela terra. E a tendência é que ele seja ainda mais frenético.
Há uma expectativa de que, em 2013, o número de universitários salte para 11 mil, com a inclusão de novos cursos nas instituições de ensino superior. E esse avanço se dará também com a criação de cursos de mestrado, como os que estão nos planos da UFCG.
Essa expansão, acredita o diretor da universidade, fortalecerá a importância de Cajazeiras na região, com a geração de conhecimento e oportunidade de negócios e emprego.
As empresas na Cidade prosperaram, com a expansão da demanda por produtos e serviços, puxada pelos estudantes
SERVIÇOS DESPONTAM
Local é celeiro de mais negócios
Dijalma Soares Germano trabalha há 18 anos no comércio de materiais para no setor de construção civil. Começou empregado numa dessas casas e, vendo a atividade ganhar espaço em sua terra, resolveu investir em um negócio próprio. Em 2003, abriu seu próprio comércio e hoje comemora os resultados da iniciativa. "Comecei pequenininho e agora estou montando a segunda loja. A concorrência já é grande, mas tem espaço", informa.
Dijalma é um exemplo, entre vários, de empreendedores que cresceram junto com Cajazeiras, aproveitando a expansão da demanda por produtos e serviços puxada pela massa de estudantes que foram chegando ao Município.
Construção civil é destaque
A construção civil é um dos setores que mais avançaram. Há dez anos, havia somente seis casas de construção. Hoje são 40. "A construção civil explodiu com as universidades. E o setor deve crescer cada vez mais, com a criação de novos cursos superiores", espera Dijalma. Aproveitando essa mesma economia que ia surgindo com a busca de estudantes por moradia, o hoje empresário Essuélio Moraes construiu seus negócios. Dono do maior hotel da cidade, o Gravatá Flat, Essuélio resolveu acreditar no potencial de Cajazeiras. Ele já possuía um restaurante na cidade, quando percebeu que deveria entrar com o outro empreendimento. "As pessoas que vinham aqui tinha a necessidade de se hospedarem em Sousa, então vi que precisava construir um hotel", lembra. Hoje, o Gravatá possui 43 apartamentos, com 130 leitos, ao todo.
Polarização
Essuélio já começou no lucro. Seus primeiros hóspedes foram atores globais, como José Wilker, que rodavam um filme "O Sonho de Inacim", sobre o fundador da cidade.
"Desde que o hotel começou foi bom. Depois, veio o petróleo, que foi descoberto por aqui perto, e as cidades são polarizadas por Cajazeiras. Fiz contrato de parceria com Petrobras, e veio o pessoal da linha de frente e técnicos da empresa", explica. E assim continuou.
Em seguida, foi a vez de ser beneficiado com a transposição do Rio São Francisco. "Fui hospedando o pessoal que ia trabalhar no túnel lá de São José de Piranhas, a 32 km da cidade", detalha. E além disso tudo, ele tem garantia de hotel lotado nos períodos de vestibular. "E tem alunos que moram aqui no hotel. Nós fazemos flat", conta, sobre o sucesso obtido.
Por estas razões, Essuélio acredita e aposta no desenvolvimento de Cajazeiras. Assim como Antônio Ricardo de Andrade, que é diretor de operações da distribuidora de bebidas Atacadão Rio do Peixe, uma das maiores empresas do Município. Como trabalha vendendo para o comércio, além de possuir uma unidade de varejo na própria cidade, o crescimento da empresa funciona como um termômetro da economia local.
O Atacadão começou na cidade há 31 anos, e hoje possui cinco unidades pelo Nordeste, tornando-se um grupo com 14 empresas. São 1.080 funcionários na distribuidora, sendo 288 em Cajazeiras, cuja unidade abastece 38 cidades, com um fluxo médio de 200 a 300 toneladas mensais no Alto Sertão.
Há 10 anos, o Atacadão é o primeiro do ramo em arrecadação de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) da Paraíba.
Consumo acima da média
"O crescimento do setor de serviços e comércio aqui é acima do índice nacional, mesmo sendo uma das regiões mais pobres do Estado. Cresce em média, 15% a 20% de consumo no ano, quando a média nacional é de 7,8%. O povo aqui tá consumindo mais", observa.
Transcrito do caderno "Negócios" do Diário do Nordeste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário