As obras da transposição do Rio São Francisco estão praticamente paralisadas no Município de São José de Piranhas, no sertão paraibano. A burocracia e atrasos gerados por problemas nas licitações seriam os principais motivos para a lentidão. No canteiro de obras, ninguém fala sobre a paralisação. A reportagem não foi autorizada a entrar. Mesmo assim, foi possível perceber que não havia sinal de máquinas trabalhando.
A reportagem procurou falar com o gerente de contato do Consórcio Paulo Mota, no escritório da empresa localizado entre Cajazeiras e São José de Piranhas. Não foi possível a entrevista. Ontem foi tentado contato telefônico, mais uma vez. O número fornecido pela secretaria do Consórcio estava sempre ocupado. A assessoria de imprensa do Ministério da Integração Nacional não informou o motivo da paralisação. No escritório de Salgueiro, que administra o projeto, a informação é de que os dois funcionários do Serviço de Comunicação Social estavam em campo.
O mesmo consórcio de empresas que não autorizou o acesso da reportagem ao canteiro de obras do túnel em São José de Piranhas não proibiu a entrada na área onde está sendo aberta a janela de acesso ao túnel, na cidade de Mauriti. Ali, os trabalhos estão acelerados. O funcionário, Ademildo Carvalho Andrade, disse que já foram perfurados 600 metros de túnel.
A ventilação é feita por uma turbina que conduz o ar externo para o interior. O objetivo da abertura, segundo Ademildo, é permitir a manutenção do equipamento que está operando no túnel principal. Ele reclama do Consórcio que está executando o projeto que, segundo afirma, não está cumprindo parte das obrigações sociais. Não está pagando, por exemplo, gratificação por insalubridade.
Nas ruas de São José de Piranhas, o comentário é a demissão dos operários. Nos últimos dias, cerca de 150 trabalhadores foram dispensados dos serviços de escavação do túnel. De acordo com trabalhadores das empresas Serveng, SA Paulista e SA Carioca, a determinação pegou todos de surpresa.
Túnel
A escavação do desemboque do túnel Cuncas I, de acordo com o projeto, fica no Sítio Curral da Onça, distante 18 quilômetros de São José de Piranhas. Conforme o projeto, o túnel mede 15 quilômetros de extensão, tendo nove metros de altura e 20 de largura, configurando-se como o maior da América Latina. O túnel começa em Mauriti (CE) e vai até São José de Piranhas (PB).
Conforme matéria publicada na imprensa paraibana, a especulação entre os trabalhadores é de que faltaram recursos para a continuidade do trabalho e que uma grande construtora assumirá a concretação do Lote 7 do canal e a conclusão das barragens dos Morros e Bartolomeu.
Eles informaram que os primeiros funcionários demitidos foram os britadores e auxiliares. Segundo as notícias, todo o restante foi mandado embora, com exceção dos funcionários do departamento de pessoal e os da lubrificação, responsáveis pela limpeza das máquinas que serão levadas para São Paulo e Rio de Janeiro.
A pouca movimentação dos operários e o silêncio indicam a paralisação, confirmada pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que, conforme notícia de jornais do Estado da Paraíba, garantiu ao deputado federal Romero Rodrigues que, até o mês de junho, os serviços do Eixo Norte (região de São José de Piranhas) do projeto da transposição do Rio São Francisco serão retomados em toda a plenitude e os problemas superados. O ministro afirmou que estão sendo adotadas providências de caráter técnico e que os problemas serão resolvidos e o cronograma traçado para o empreendimento deverá ser cumprido e terá andamento acelerado. Estão também sendo revisados alguns contratos visando resolver algumas pendências, conforme o ministro.
Complexidade
A complexidade da transposição não se restringe à construção de túneis. O sistema completo, segundo o projeto, será apoiado pela construção de 36 barragens, 17 aquedutos, sete túneis, 63 pontes, 35 passarelas e 165 tomadas de água. Nas estações de bombeamento, subestações de energia serão construídas para fazer com que a água suba montanha acima, em lances de 35,60 metros de altura. A utilização das barragens vai permitir que, diariamente, esse sistema de bombeamento seja desligado por três ou quatro horas, para manutenção e economia de energia.
O Eixo Norte, com 426km, segundo o projeto, tem conclusão prevista para 2012 e início das operações em 2013. Atualmente, está com avanço de 52%. A captação será diretamente no Rio São Francisco, próximo à cidade de Cabrobó, em Pernambuco. A água do canal irrigará as bacias dos rios Salgados e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte.
Reportagem de Antônio Vicelmo no Diário do Nordeste.
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