25 de junho de 2011

A política em Cajazeiras: e la nave va, ma non troppo


Por Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira

Depois de um mês do vendaval da inesperada renuncia, posso comentar sem emocional. No sistema político sui generis de nossa cidade, de trinta anos para cá, se consolidaram duas lideranças que somente tinham em comum o diploma de Medicina, Epitácio Leite e Vtiuriano Abreu.

O primeiro, um grande vencedor de campanhas e como administrador; como expressaríamos algo de uma pessoa que gostamos: muito limitado, dizia-se que Epitácio era um grande prefeito – para seu sucessor, deixava as contas em dia, muitos projetos de obras grandes parados (não se interessava por estas), calçamentos e outras obras de pequeno vulto aqui e ali, enfim um administrador do FPM e das verbas já asseguradas – ele definitivamente não gostava de governar, agora, uma capacidade de articulação e aglutinação de forças políticas (em trono de seu nome) fantástica. Em campanha, o Velho Pita, como foi chamado, era um osso duríssimo de roer.

Já Vituriano, a outra força que apareceu no nosso meio ambiente político, era completamente diferente, uma personalidade fortíssima, exercia o poder com uma autoridade inconteste, uma capacidade de trabalho inigualável, agora, por estas qualidades, tinha a característica explosiva, que extrapolava o campo da política e adentrava ao lado pessoal e, dependendo do caso, a família, transformando adversários políticos em desafetos pessoais. Esta característica lhe custou mais de uma eleição certa, que explorada por adversários competentes, em questão de dias, se invertia uma situação que lhe era favorável.

No meu caso particular, sempre me dei bem com ambos, e pude analisar com uma certa isenção, tendo, naturalmente em situações diferentes, a ocasião de votar nos dois, inclusive quando um era candidato a Dep. Federal e ou outro a Estadual, nos dois na.mesma eleição. Foram as estrelas maiores de nosso céu político.

Ocorreu, que na última vez em que Epitácio à frente de nossa prefeitura, ele abriu mão de sua reeleição, eis que surge Carlos Antônio, como alternativa a Vituriano, que terminou a ser indicado como sucessor do Velho Pita. Todos nós esperávamos que o próximo prefeito fosse um Epitácio dinâmico. Quando assumiu, Carlos Antônio, e somente falo de quem gosto, se revelou um Vituriano agradável, a mesma determinação de exercer o poder na plenitude, e ouvia, dava sugestões, encorajava as idéias dos amigos, e no final fazia tudo da forma que ele desejava. Características de um líder.

Então depois de oito anos na administração municipal aparece Leo Abreu, discurso perfeito, colocações ponderadas, grande capacidade de articular forças antagônicas, e Cajazeiras elegeu-lhe como o Vituriano diplomático. Quando no poder se revelou que na verdade se tratava de um Epitácio remoçado, sem a volúpia pelo poder que um prefeito de uma cidade em crescimento como cajazeiras está a exigir, e terminava calçamentos e não se dava sequer ao trabalho de ir visitar com seus assessores ou noticiar a conclusão da obra.

Isso com uma grande diferença, à frente de uma complexa máquina administrativa em que teve que colocar os antigos correligionários do pai, e outros, sem o controle e a presença do mandatário, e começaram, segundo até seus seguidores, desmandos e quebra da liturgia dos níveis de poder.

O velho Pita não se locupletou do poder em proveito próprio, mas provavelmente outros o fizeram, e ele teve de responder a processos de improbidade administrativa possivelmente por desmandos de subordinados. Com certeza, inclusive o vi se lamentando disso, acelerou a propagação do câncer que o levaria ao túmulo. O câncer é a doença da tristeza...

Vendo por este ângulo, é um tanto compreensível a renúncia de Leo, um cidadão mais para cientista que para político, que o que almejava era o resgate de sua família, ao seu ver injustiçada pelos sucessores; Quando a gente ia a um comício, via a animação em todo mundo, menos no candidato, apesar do discurso perfeito, e assessoria de primeira.

Os cientistas são assim: tenho um exemplo de casa; meu pai, Dr Waldemar Pires, obrigado pela família a se candidatar a vereador; apesar da votação consagradora, não assumiu o cargo. Definitivamente não era sua praia. Mais recentemente, Dr. Xavier; eleito, assumiu o cargo, e refutou todos os convites para ser reeleito. Cada macaco em seu galho, ou fazendo uma paródia de mau gosto ao grande Geraldo Vandré: “o mundo não se resume à Prefeitura Municipal de Cajazeiras”. Alguns ainda pensam assim...

Para entreter os leitores após esta longa e enfadonha dissertação, em homenagem ao meu amigo Frassales, vou contar um acontecido na campanha em que Dr. Waldemar era candidato a vereador: O real propósito dela era dar uma força a candidatura de Dr. Cristiano Cartaxo a prefeito, discurso proferido no então distrito de Cachoeira dos Índios: “Sei que somente um milagre fará com que meu tio Cristiano Cartaxo vença as eleições contra Dr. Otacílio Jurema, mas eu acredito nesse milagre.” Contada e confirmada por Dr Waldemar. Menos político impossível... (15 de junho de 2011)

Nada pode ser tão ruim que não possa piorar: corroborando o exposto, depois de publicada esta matéria, soube da notícia que chegou à Comarca de Cajazeiras um mandato de prisão em desfavor de Dr. Epitácio Leite por improbidade administrativa. É uma segunda morte, se vivo estivesse com certeza o Velho Pita morrera de novo. Isso sem se locupletar. A viuvinha está cada vez mais de alta periculosidade... (22 de junho de 2011)

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...