GERALDO BERNARDO
Saí comprar o colírio.
Afinal, para enxergar melhor o mundo devemos lavar a vista, olhar para mundo com a vista boa é livrar-se do mal caminho, aquele que leva à amargura. Quem não lava as vista tem sentimento muito negativo. Em algumas pessoas é muito forte, gente que proclama o denuncismo, que alardeava a negatividade. Este é um grande mal que nos assola, não é fisiológico, é ético e moral, grande mal.
A pessoa é capaz de livrar-se de todos os males do mundo, difícil é escapulir de parente pirangueiro. E, sempre há um em toda família. Na maioria das vezes é criado pela vó, não pelos avós, pela avó. Dengoso, dissimulado, mandão, machista, pilantra etc., meu primo cigano, ponta de rama, criado entre fronhas e copos de leite morno é assim. Pra completar é filho da puta e de um finado tio boêmio.
Cresceu dando golpes, nunca trabalhou de verdade, tampouco tem sangue cigano, o apelido é puro preconceito. Sempre viveu de tramoias e megalomanias. Mais liso que muçum, especialista em esconder onde mora, se mudar na madrugada, dizer nome falso, enganar moças românticas e rapazes de vida alegre. E, ainda por cima, é homofóbico. Pode?
Vendia o corpo em troca dos holofotes e da mordomia. Dublê de cafetão. Viveu com uma professora muitos anos, quando aprendeu violão, tinha do bom e do melhor, fazia festas, tomava porres, tinha várias amantes e... deixou a pobre com o bucho pelas goelas. Ainda deu uns “catiripapos” na coitada.
Fugiu com Mazé, menina-moça, dezesseis anos, uma princesa, que era sobrinha do vereador, que era amigo do prefeito e por aí vai. Gosta de ser influente, inteligente, especialista em tomar uma ideia sua, dizer-se dono dela, vendê-la, e, dizendo-se ético, querer dar-lhe uma migalha. Está sempre lhe pedindo algo ou empurrando um trambolho na sua mão. Cuidado com o meliante! O bicho é sem futuro. Terminou deixando Mazé na gandaia, pras bandas do Planalto Central.
Cheio de cacoetes e cocós. Só bota meio copo de cerveja e corta o cigarro ao meio, com um tiro de revólver. Fala sem parar e quer ter sempre razão, ser o centro das atenções, não consegue viver sem ser protagonista. Coadjuvante, jamais!
Diz-se jornalista, desconheço o diploma, mas, vive de prestar “assessoria” – há quem diga extorsão – a políticos e pessoas influentes. Falou em mídia é com ele. Consegue vender curso rápido de javanês em dez lições. Já vendeu raspadinha, montou “Lan House”, editor jornal subversivo, foi marqueteiro de prefeito corrupto, produtor de desfile, defensor de Sem-Terras, enfim... disfarces não lhe faltam.
Envolveu-se numa barra pesada em terras cariocas, sofreu um balaço na canela e ganhou um “caxingado”. Depois disso migrou em busca do Norte, ouvi dizer que montou uma estrutura boa, vivia cutucando político com escândalos e factoides. A metodologia é velha, basta começar a fuçar, plantar boatos, usar uma ou outra pessoa, associar-se a grupos opositores, depois é negociar com as vítimas que não querem ter seus nomes enlameados.
Dizem que bateram na roupa de meu primo com ele dentro. Causa não esclarecida, há fortes suspeitas que um prefeito injuriado desafiou o brio de uns cabras, que, afoitos, tomaram-lhe a bengala e o mandaram de volta, “caxingando” de lá até cá.
Agora estamos tomando cerveja no Bar do Mário:
- Neste ramo vale tudo, primo velho!
- Como assim? Indago ingenuamente.
- Tudo mesmo. Criar enredos, fazer insinuações e comparações, fazer chacotas, esculachar figurões – estas coisas chamam a atenção, principalmente hoje – depois é faturar geral. Todo mundo tem um rabo preso. Tem um político que é sonegador, um jurista que fuma um baseado, uma foto comprometedora, tudo isto dá dinheiro.
Baixo a guarda um segundo e já vem com “chaveco” “pra riba de muá”:
- Primo, me empresta vinte conto.
- Tenho não! – falo na bucha, não tenho mesmo.
- Então me dá um cigarro.
- Parei de fumar.
- O que é isso que tu tem bolso?
Começo a me “tocar” da malandragem.
- É colírio por quê?
- Deixa pingar umas gotinhas aqui no meu olho????
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