15 de abril de 2012

A timidez do bem

Thompson Mariz

Os recentes protestos de alunos de várias universidades federais, mediante dificuldades enfrentadas em decorrência de um contexto muito particular, típico dos momentos de grande crescimento, e, muito especialmente, os protestos realizados por alguns alunos da Universidade Federal de Campina Grande, fizeram-me lembrar de uma reflexão feita pelo atual Ministro da Educação, Aloizio Mercadante: “o Bem é muito Tímido e, ao contrário, o Mal é falante e se apresenta com muita desenvoltura”.

Vamos aos fatos, particularizando a análise para o contexto da nossa Instituição, para ver se procede a reflexão acima citada.

A Universidade Federal de Campina Grande, que foi criada, timidamente, em 09 de abril de 2002, com quatro campi universitários, tinha apenas 29 cursos de graduação, 2 cursos de doutorados e 7 cursos de mestrados. Neste período, oferecia 1.610 vagas de ingresso no vestibular, tinha cerca de 7.770 alunos de graduação, menos de mil alunos de pós-graduação, 750 professores e 1.400 servidores técnico-administrativos. Sua infraestrutura de salas de aulas, de laboratórios e bibliotecas, bem como de todos os demais setores administrativos, estava indiscutivelmente comprometida, sem falar no fato de que o acervo bibliográfico encontrava-se desatualizado.

A verba recebida para a manutenção da estrutura existente era de tamanha insuficiência que, não raramente, a Universidade sofria cortes dos serviços de energia e de telefonia, por falta de pagamento.

Pouco mais de três anos após a sua criação, mais precisamente em agosto de 2005, iniciávamos a implantação dos campi de Cuité e Pombal. Nestes dois novos campi, 10 novos cursos de graduação foram oferecidos, sendo nomeados, para o seu funcionamento, 156 professores e 85 servidores. Ou seja, estávamos então vivenciando a Expansão Fase I da Universidade Federal de Campina Grande, estávamos naquele momento fazendo uma ação do Bem.

Essa ação do Bem igualmente se reproduziu quando da criação do terceiro novo campus, na cidade de Sumé, região do Cariri, ainda no âmbito da Expansão Fase I. Em Sumé, criamos 7 novos cursos, com a nomeação de 80 professores e 45 servidores.

Para a implantação dos campi de Cuité, Pombal e Sumé foram investidos, até agora, cerca de 38 milhões de reais, que asseguram infraestrutura de sala de aula, de laboratórios, de bibliotecas, de restaurantes e residências universitárias, além de outras estruturas acadêmico-administrativas necessárias ao bom funcionamento dos cursos ali oferecidos.

Ação do Bem foi também a adesão ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, a chamada Expansão Fase II. O REUNI significou mais de 40 milhões de reais de investimentos, além da nomeação de 171 professores e 143 servidores, para dar suporte à criação de 18 novos cursos de graduação.

O resumo desse conjunto de ações do Bem é o oferecimento de 4.765 vagas de ingresso em 75 cursos de graduação, em sete diferentes localidades do Estado da Paraíba, ampliando consideravelmente a oportunidade de acesso ao ensino público superior a jovens que se encontram na faixa etária dos 18 aos 24 anos, notadamente aqueles que residem em cidades do interior, sem poder aquisitivo para se deslocarem a centros de excelência, no que se refere à oferta deste nível de ensino.

Além de ter ampliado o acesso ao ensino superior, mais que duplicando o número de alunos de graduação, a Universidade Federal de Campina Grande, que hoje conta com 1.420 professores em seu quadro de pessoal efetivo, modernizou toda a sua infraestrutura de salas de aula, climatizando-as e dotando-as com equipamentos multimídia de última geração, o mesmo tendo ocorrido com os seus laboratórios e suas bibliotecas (Central e setoriais), que foram beneficiadas com uma quantidade considerável de aquisições, em termos tanto de novos títulos quanto de novos volumes, para o incremento do acervo existente.

No que diz respeito à pós-graduação e pesquisa, a Universidade Federal de Campina Grande, nestes dez anos de sua existência, atingiu o patamar de 2.000 mil alunos de pós-graduação, distribuídos, hoje, em 7 cursos de doutorados e em 20 cursos de mestrados, sendo 3 deles mestrados profissionais.

Os pesquisadores desta Instituição, neste período, captaram cerca de 20 milhões de reais em recursos destinados em diversos Editais dos CT-Infras, que é gerenciado pela Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP.

Além dos recursos captados, que se transformam em qualidade para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, a presença de um campus da Universidade Federal de Campina Grande também significa a possibilidade de desenvolver os setores produtivos do município, uma vez que contribui com a formação de recursos humanos, a partir das atividades de pesquisa e extensão científico-tecnológica que o centro de ensino ali localizado venha a produzir, sem falar que a presença de uma universidade impacta muito significativamente a economia local, além do desenvolvimento da ciência, da tecnologia, da cultura e da arte.

A ampliação do número de alunos na Universidade Federal de Campina Grande não vem ocorrendo sem um conseqüente investimento na assistência estudantil: neste curto período de expansão, foram construídas cinco Residências Universitárias (duas em Cuité, duas em Cajazeiras e uma em Pombal), estando prevista para o ano de 2012 a conclusão de mais seis novas unidades: duas em Sousa, uma em Pombal, uma em Patos e duas em Sumé. Foram construídos dois restaurantes universitários (um em Cuité e outro em Sousa) e reformados outros dois restaurantes (um em Patos e outro em Cajazeiras), estando já em andamento a reforma do restaurante universitário do campus de Campina Grande. Além disso, foi construído o ginásio de esportes de Patos, estando em andamento a reforma dos ginásios de esporte de Cajazeiras e de Campina Grande, bem como está sendo construído um novo Posto Médico e efetivada a modernização da Praça de Esportes do campus de Campina Grande.

A Universidade Federal de Campina Grande, em todos os seus campi, é um verdadeiro canteiro de obras, tal a quantidade de novos prédios construídos.

Qual a repercussão positiva dessa gigantesca ação do Bem no seio da comunidade acadêmica e da sociedade paraibana?

Como a Universidade Federal de Campina Grande é vista nesse processo de expansão?

Quanto contribuiu para o desenvolvimento do Estado da Paraíba?

Qual a nossa contribuição, em obediência ao que determina nosso Estatuto, para transformar a UFCG em uma universidade socialmente referenciada?

Em outras palavras: estamos ou não realizando uma ação do Bem?

As pessoas que se dispõem a trabalhar, a fazer, a empreender e a inovar, estão inevitavelmente passíveis de enfrentar os mais variados percalços e, não raro, severas e, muitas vezes, maldosas críticas.

Para as pessoas que, exercendo um cargo público, não gostem e não saibam conviver com a crítica, o recomendado é que não façam nada além do trivial, do cotidiano, rotineiro e burocrático. Permanecer no trivial sem ariscar na inovação certamente renderá pouca ou nenhuma critica, bem como não despertará a inveja e o ódio de possíveis opositores.

Um percalço, determinado por razão externa, a exemplo da conclusão de um determinado equipamento que não ocorra em tempo hábil, inviabiliza toda a vida útil que este mesmo equipamento terá, servindo ao objeto para o qual foi projetado?

Em outras palavras: uma ação do Bem pode ser inviabilizada e desconsiderada em função de atraso em sua realização, transformando-se em ação do Mal, que é sempre melhor divulgada e amplamente evidenciada?

Acredito que não! Sou defensor, como cidadão do bem e do mundo, que o Bem deve prevalecer e vencer o Mal sempre. Não é possível que uma telha que caia, mesmo sem ferir alguém, repercuta mais na mídia do que a ação benéfica de se construir o telhado.

O fato, de per si, é que, no mundo contemporâneo em que vivemos, a espetacularização do protesto levou para a “coxia” o diálogo entre os atores, sobretudo, porque determinados atores só entram em cena para atuar para um grande público, preferencialmente apenas se a mídia se fizer presente. Ora, pois não é tudo quanto o Mal gosta? Aparecer, desmerecer, encenar meias verdades?

Na verdade, para esses atores, interessa esconder o Bem, escamotear o Bem, desmerecer o Bem, porque só assim conseguem fazer sobressair seus próprios interesses. Nesta espetacularização, em que autores e atores, com textos bem decorados, que desconsideram o exercício do diálogo, o Mal merece estar em cena, sob holofotes tão bem direcionados? Acredito que não!

O triste é constatar que esse tipo de prática política, presente na sociedade brasileira, é alimentada e pedagogicamente retroalimentada por formadores de consciências ideologicamente parcializadas, mesmo nas melhores escolas de formação universitária deste país.

Thompson Mariz é Reitor da UFCG

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