Francisco Hernandez
Podemos observar que houve um retrocesso na cultura de Cajazeiras nos últimos dois ou quase três anos, quando a gestão que cuida ou que deveria cuidar pensa ou pensa que pensa em estratégias de vanguarda que só inibe o seu crescimento.
Se não vejamos: em 1999 foi criada a Lei Viva Cultura que tinha como objetivo a renúncia fiscal de impostos (IPTU, ITBI, Alvarás, entre outros) e através de Bônus Culturais que eram distribuídos por meio de editais, com os artistas concorrentes e contemplados.
Modelo que não funcionou muito bem, haja vista o surgimento da figura do atravessador, que por sua vez recebia uma bagatela de 30 a 50% dos recursos destinados aos projetos culturais, além de manipular o segmento comercial e industrial no tocante a vendas dos referidos Bônus.
Esse período durou até 2001 e foram publicados dois editais com pelo menos 15 projetos contemplados.
Em 2001, a gestão municipal reuniu-se com os segmentos artístico-culturais, na tentativa de pensar uma nova política pública de cultura e dessa análise/radiográfica surgiram boas propostas a exemplo da transformação do Bônus Cultural em Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, com comissão de análise de forma paritária, criação do Conselho Municipal de Cultura, seguindo o mesmo formato da comissão, criação da Fundação de Cultura Ivan Bichara, com CNPJ independente da edilidade municipal, entre outras, que movimentaram o cenário cultural da terra do Padre Rolim, por oito anos, com 4 editais publicados e cerca de 98 projetos culturais aprovados.
Lembramos ainda que durante este período foi realizado o filme “O Sonho de Inacim”, do cineasta Eliézer Rolim, nosso ilustre conterrâneo que conta a história do Padre Rolim, elevando assim a nossa memória e a nossa estima.
Nesse período também foi feita a transferência do carnaval da Praça Presidente João Pessoa para a Avenida Juvêncio Carneiro dentro de outro formato, ou seja: a criação da Praça do Frevo, do Reag, do forró e do corredor da folia, servido de arquibancadas, camarotes e banheiros químicos para melhor comodidade dos foliões de momo, além de resgatar o carnaval de clubes e investir nos blocos carnavalescos locais.
Como resultado desse processo de avanço, podemos elencar 14 espetáculos teatrais, 12 grupos de dança de rua, 3 grupos de danças folclóricas, várias bandas de forró, grupos de serestas, lançamentos de livros, diversos CDs gravados, DVDs registrando manifestações da comunidade, aproximadamente 10 entidades culturais devidamente constituídas, a liga dos blocos carnavalescos sem contar com os eventos realizados pela ACATE – Associação Cajazeirense de Teatro “CAJAZEIRATO – Festival de Estadual de Teatro com 4 edições, o Centenário de Zé do Norte, promovido pela ASPEC – Associação de Produtores de Eventos Culturais, festivais de danças de rua, implantação do Ponto de Cultura “Artes para Todos”.
Chamo de retrocesso quando a atual gestão cria a Secretaria Municipal de Cultura e na mesma mensagem de projeto lei extingue a Fundação de Cultura Ivan Bichara.
Chamo de retrocesso quando a atual gestão extingue a paridade da Comissão de Análise do FUMINC – Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, tirando o direito da sociedade civil participar das decisões democráticas.
Chamo de retrocesso quando a atual gestão extingue a Secretaria Municipal de Cultura e cria uma Secretaria Executiva, tirando o poder de decisão de um setor tão importante para a alcunha que carregamos. A terra da cultura.
E por fim, chamo de retrocesso o fato da atual gestão propor uma lei criando um Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico do Município, apresentando uma formação composta apenas pelo Poder Executivo.
O mais grave! O prefeito municipal de Cajazeiras está sendo chamado de o fora da lei. Por não respeitar as leis estabelecidas. Digo por quê: O piso salarial dos professores foi determinado pela justiça através da 4ª vara e até o momento o Prefeito não obedeceu. Quer outra, pois bem: o concurso público até hoje não se sabe se vai acontecer ou não.
Tem mais. O IPHAEP – Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico do Estado da Paraíba notificou o prefeito para uma reunião, o qual não compareceu, a partir daí multou e embargou a obra da Praça Coração de Jesus por não ter autorização do referido Instituto para realização da obra no dia 07 de outubro do ano em curso.
Diante de tantas constatações podemos afirmar que a nossa cidade está realmente jogada ao “leo” ou ao seu enviado.
Chego até a pensar que estamos vivendo nos dias atuais não na terra da cultura, a terra que ensinou a Paraíba a lê, a terra do Padre Inácio Rolim, mais sim no oeste americano na era do faroeste.
Francisco Hernandez é teatrólogo, artista profissional, diretor teatral, presidente da Federação Paraibana de Teatro (FPTA) por três mandatos, atual presidente da Associação Cajazeirense de Teatro (ACATE), ator dos filmes “O Sonho de Inacim” e “O Filme dos Espíritos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário