19 de agosto de 2012

Há 34 anos acontecia o 1º Salão Oficial de Arte Contemporânea


“Eis a nossa exposição. É dos nossos artistas. É nossa arte. Se é pobre, é porque representa nossa miséria. Se não tem muita criatividade é porque nossa fome não deixa que ela desenvolva.” Assim fechou o último parágrafo do texto de apresentação do catálogo do 1º Salão Oficial de Artes Contemporânea do Sertão, a matriarca do teatro cajazeirense Íracles Blocos Pires, numa evidente demonstração de sentimento político pelos que na cidade, a duras penas, fazia uma arte de resistência e de enfrentamento, diante do isolamento social e cultural que impedia o acesso as novas estéticas e linguagens influentes que indicava o rumo que a arte devia seguir na época.

Essa arte referida por Íracles era específica, regionalizada e interiorizada. Não representava todo conteúdo exposto no Salão, pois o mesmo apresentou trabalhos de artistas de centros mais desenvolvidos, como Campina Grande, João Pessoa, Olinda/PE e Aracajú/SE. Entretanto, embora ela não fosse consensual - já que poucos a conhecia ou quase não tinham acesso aos ambientes de trabalhos dos artistas, bem como, os locais onde eram expostas e por falta de informação, desconhecia o seu perfil estético; pelo menos era representativa, trazia na sua totalidade elementos que evidenciavam a ligação dos seus produtores com a sua terra, com sua gente e acima de tudo com as condições sociais que a região propiciava a sua produção.

É importante salientar que a cajazeiras dos anos 70, era uma cidade politizada e ideologicamente centrada nos grandes fatos históricos ocorridos no país daquela época; e a arte produzida em seu tempo, boa parte estava a serviço da educação de outra parte da população considerada desinformada e despolitizada. Por isso, talvez neste contexto, os trabalhos plásticos apresentados no Salão carregassem um viés que adequasse sua produção a esse engajamento político/ideológico, ou simplesmente ostentasse uma forma ingênua de representar as mudanças ocorridas no meio onde viviam os seus agentes produtivos.

Os objetivos aparentes do Salão foram claros ao revelar aos olhos de todos no interior do Grêmio Artístico Cajazeirense, uma arte eclética, ingênua, desconhecida, adormecida, porém ignorada pelo poder público que ao longo dos anos tem sido ineficaz no apoio a cultura e arte advinda de locais mais afastados, como as cidades do interior, mas que surpreendia, dando aos artistas a conveniência de saírem do anonimato. “Tirar o artista que existe no povo e que por falta de oportunidade fica entocado com medo e com vergonha de mostrar seus trabalhos.” Como afirmou a própria Íracles.

Em outra parte do texto, Íracles questiona as dificuldades de se produzir arte distante dos grandes centros. “Nosso sertão é muito longe dos grandes centros. Nosso artista não tem escolas, na sua grande maioria é primitiva. Tem a chama da arte em si, mas não sabe exprimi-la como deseja, pois falta-lhe oportunidade”. Revela o acanhamento como complexo de inferioridade de impedia o artista de mostrar sua arte. “Nós tivemos a coragem de chamar esse artista, dar-lhe oportunidade, dizer-lhe que sua arte não decepciona que ela é autêntica e que ele, o artista, tem direito a seu lugar ao sol.

O Salão foi realizado há 34 anos atrás, entre os dias 12 e 30 de agosto de 1978, numa época difícil para as produções artistas no país que as duras penas enfrentava furor da censura ou fugia do seu rolo repressor. Mas foi em meios a estas dificuldades impostas, expeditivas de ansiedades, que os organizadores conseguiram fazer um evento que parou Cajazeiras. Foram expostas mais de 125 trabalhos, entre desenhos, esculturas, pinturas, tapeçarias e cerâmicas.

DO BLOG CAJAZEIRAS DE AMOR


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