18 de setembro de 2011

Origens da Diocese de Cajazeiras

Francisco Frassales Cartaxo

A diocese de Cajazeiras festejará, em 2014, seu primeiro centenário. Além das usuais evocações de figuras decisivas para sua criação, convém lembrar que ela não nasceu de movimento local, isolado do contexto que envolvia a Igreja no Brasil. Ao contrário, derivou de estratégia nacional de expansão da Igreja Católica, construída após sua separação do Estado, em 1890. A nova realidade impôs a reorganização da Igreja, a fim de ocupar melhor o território brasileiro, intensificar a formação de quadros e de patrimônio material suficientes para manter-se e prosperar.

Novas dioceses resultaram, então, dessa política que levou, também, à estadualização organizacional da Igreja no Brasil. E deu certo. Basta dizer que, no final do Império, só havia 12 dioceses no Brasil, distribuídas em onze províncias, além da Corte, e que, entre 1890 e 1930, foram implantadas outras 56, sendo 13 delas na região que hoje é o Nordeste. De saída, todas as capitais de províncias ganharam dioceses, incluindo a da Paraíba, que Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques comandou durante 41 anos, como bispo e arcebispo!

Além dos fatores de ordem geral determinantes da nova configuração territorial da Igreja no País, a criação da diocese de Cajazeiras teve uma motivação adicional. É o que demonstra o sociólogo carioca Sergio Miceli, no livro “A Elite Eclesiástica Brasileira” (Cia. da Letras, São Paulo, 2009):

“Na impossibilidade de incorporar ou domesticar os movimentos de Canudos e Juazeiro, a organização eclesiástica buscou fechar o cerco em torno dessas ameaças de cisma, revigorando os serviços religiosos nas regiões vizinhas de modo a prevenir surtos idênticos de heresia capazes de pôr em risco os interesses da Igreja. Tirante a diocese de Manaus e as cinco dioceses instaladas nas capitais nordestinas (Paraíba, Maceió, Teresina, Natal e Aracaju), as outras oito dioceses criadas nessa região como que configuram um cinturão de segurança em torno de Juazeiro.”

As oito dioceses referidas por Sergio Miceli são: Cajazeiras, Crato, Sobral, Penedo, Garanhuns, Pesqueira, Nazaré e Petrolina, todas criadas entre 1910 e 1923. O autor justifica a escolha de Cajazeiras, também, por situar-se “nos confins do sertão paraibano na vizinhança da região do Cariri, justamente a área sob liderança político-religiosa do Padre Cícero.” Mais adiante, o professor titular de sociologia da Universidade de São Paulo reforça o argumento, ao indicar que:

“Afora as razões de ordem econômica, Cajazeiras e Crato se tornaram sedes diocesanas sobretudo em função dos interesses eclesiásticos empenhados em erigir frentes capazes de resistir aos avanços de Juazeiro, mas também por abrigaram, respectivamente, o seminário menor e o renomado colégio religioso do Padre Rolim.”

Como se pode inferir, segundo o acadêmico Sergio Miceli, a escolha de Cajazeiras como sede diocesana teria sido, entre outros motivos, fruto de decisão hostil ao padre Cícero Romão Batista, à época, tratado como inimigo da Igreja, que agora busca reabilitá-lo.

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