2 de novembro de 2011

Lição de Cajazeiras

Gonzaga Rodrigues

Digna da tradição de Cajazeiras a edição dedicada pelo seu jornal, a “Gazeta do Alto Piranhas”, aos 148 anos da cidade, comemorados na penúltima semana de agosto. Retomo a edição com quase dois meses de atraso sem passar pelo desencanto de estar lendo um jornal de ontem. As infalíveis mensagens, peso comum da massa publicitária, não usurparam o sentido do esforço editorial, sempre e cuidadosamente resguardado pelo texto histórico.

Mais uma vez Cajazeiras nos passa a sua lição. Em João Pessoa, com exceção deste ano em que se ensaiou uma avaliação precária do crescimento urbano e dos negócios da nova grande cidade, as edições do 5 de agosto têm sido, invariavelmente, um puro pretexto comercial. Notamos o nosso crescimento mais pelo trabalho dos fotógrafos do que dos analistas econômicos e pesquisadores sociais. Agora mesmo, a representante do Ministério Público direcionada para a Educação, registra o descaso desanimador com a situação do professor, com a merenda, com o transporte escolar, com a escola pública fundamental apontada para noventa por cento da criançada. Reconhece que há dinheiro franco e suficiente dos repasses federais, mas tudo se desonera na aplicação, na má gestão ou na gestão viciada de política. Dos duzentos e tantos municípios foi mencionada uma exceção.

Como não podia deixar de ser, o jornal de Cajazeiras refletiu a cultura de suas elites, a propagação histórica e continuada da escola de sua fundação nos rumos que a cidade e seus filhos seguiram e prometem seguir. Talvez seja o centro de desenvolvimento universitário mais dinâmico e de cidadania, nesse aspecto, mais engajada do interior do Estado. Evidenciam-se outras atividades, outros progressos, mas é o enxame universitário, a oferta de cursos com os seus reflexos visíveis o que mais aparece na leitura.

O orgulho cajazeirense, mesmo com a expansão de fortunas comerciais nas grandes praças do Nordeste, persiste e destaca-se no culto às raízes espirituais. Nenhuma edificação faz sombra à dos Rolins, a dos Cartaxos, dos Luiz Gomes, dos Sabinos, dos Pires, dos Juremas, dos Bandeiras, legendas que a crônica imortal de Deusdedit Leitão saiu imprimindo em dezenas de páginas.

Só faltou uma referência a seu grande filho, o governador Ivan Bichara Sobreira, aluno e professor do Colégio Padre Rolim, que algum beneficio, mesmo feito com discrição, deve ter levado à terra da sua vida real e das suas fontes literárias. Até como escritor fez de Cajazeiras um dos mais vivos cenários.

Gonzaga Rodrigues é jornalista e cronista. Escreve no Jornal da Paraíba, num espaço que revela, através de crônicas, acontecimentos do cotidiano do povo nordestino com um misto de política e literatura.

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