Apesar da Aids estar concentrada nas cidades de João Pessoa (136 casos), Campina Grande (34), Bayeux (26) e Santa Rita (23), acomete paraibanos que moram no interior, onde não há tratamento para a doença.
Quando o paciente recebe o diagnóstico, recebe também a recomendação médica de se deslocar até a capital ou Campina Grande para fazer o tratamento e pegar os medicamentos. A gerente operacional de DST/Aids e Hepatites Virais da SES, Ivoneide Lucena, disse que devido ao crescimento no número de casos da doença nos últimos anos, a Secretaria adotou algumas medidas emergenciais. Uma delas foi iniciar a descentralização do tratamento.
“Nosso objetivo é implantar serviços para que as pessoas tenham tratamento em cidades mais próximas de onde moram, evitando o deslocamento até João Pessoa ou Campina Grande”, frisou. A descentralização já foi iniciada nas Gerências Regionais de Saúde.
Para fazer tratemento na capital, vítimas de doenças percorrem até 500 km todo mês
O deslocamento até a capital deixa o paciente ainda mais exausto no tratamento das doenças. Como se não bastasse a luta para vencer a doença, muitos precisam percorrer uma longa distância até João Pessoa. É o caso de Francisca da Silva, 22 anos, que sai de Cajazeiras, no Sertão, e enfrenta uma via crúcis todo mês com o filho de apenas 5 anos. Os dois têm o vírus HIV e fazem tratamento no Hospital Clementino Fraga.
Quando descobriu que estava grávida, aos 17, Francisca passou a fazer o pré-natal rigorosamente, até porque a família a pressionava. Fez todos os exames, menos o teste de HIV. A consequência foi desastrosa: o vírus foi passado para o bebê na hora do parto. Indignada, Francisca move uma ação de danos morais contra a Secretaria de Saúde de Cajazeiras, alegando negligência médica.
Com o diagnóstico que ninguém deseja ter, Francisca foi orientada a vir para João Pessoa com o filho. E assim o fez, apesar das dificuldades. Por lei, quando uma cidade não oferece tratamento para Aids, a prefeitura tem obrigação de pagar o deslocamento. No caso de Francisca, ela precisa pagar cerca de R$ 130 de passagem. A mulher percorre quase 500 quilômetros até a capital com o filho no colo. Uma viagem desgastante para os dois.
O presidente da ONG Missão Nova Esperança, Vitor Buriti, que abriga portadores do vírus HIV vindos do interior, disse que até para receber os valores das passagens, Francisca tem de esperar meses. "É por essa dificuldade que os pacientes acabam desistindo. Não é fácil enfrentar o tratamento. É uma situação de estresse", disse.
Com reportagem de Valéria Sinésio para o Jornal da Paraíba
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