Geraldo Bernardo
Hibernei por três longos dias. Folheei sem prazer algumas publicações e não li uma página sequer. A que se deve este vazio? Quanta tormenta me aflige a mente a vazia. Como Hamlet, pergunto-me e não encontro respostas. Tudo está terminado?
Construir novas utopias é suicídio. A “normose”, que tomou conta geral da ideologia reinante, diz-me que devo me preocupar mais com o vintém que com as ideias. Será? E os protestos em Wall Street? E a quebradeira geral do mundo, a qual está sendo paga com a poupança dos trabalhadores? Como não empunhar novas bandeiras, rasgar a cortina da hipocrisia e dizer tudo está terminado? Bradar, aos tantos ventos quantos possam existir que temos uma grande tarefa a cumprir.
Descobri-me professor, diria educador, mas, fui impelido a construir um aprendizado dogmático, sistemático, pautado em índices ministeriais. Relutei, transformei o possível, tem sido muito pouco. Ante a crise, ou inversão, de valores, tem sido ínfimo.
Ouvi falar de revoluções, garantias individuais, diversidade e tudo mais. Mas, vejo um sistema férreo dominar gentes e instituições. O esmero do artesão foi trocado pelo descartável chinês ou paraguaio, tanto faz. Dizem os manuais legalistas, que a escola é um templo da formação, do prosseguimento de uma cultura, a qual se sustenta em pilares fictícios.
A família, como de todo o resto, passa por transformações galopantes que não são aceitos, na maioria das vezes, por aqueles que a compõem. E, resultante deste conflito, surge o pensamento troncho de que a escola vai resolver os conflitos, como se o edifício da escola fosse tal qual um reformatório, como se o professor fosse “enquadrar” a rebeldia ou a desobediência de alguns filhotes desgarrados do rebanho.
Não vêm, os que são comedidos e defendem uma escola trancafiada, que, no passeio público, o pai do aluno vende produtos piratas para financiar a educação dos filhos. Senhores togados em várias áreas provocam uma guerra de intrigas, traições, mentiras e tudo mais, para “vencerem” na vida, e, frustrados ao fim de cada batalha entopem-se de álcool e barbarizam as avenidas em seus possantes comprados, muitas vezes, com o fruto do descaramento.
Não sou correto, nem santo, apenas não me acostumei com o argumento de que “para tudo tem um jeito, menos para morte”, principalmente, quando ouço uma proposta de propina anexada ao velho dito popular. É impossível confeccionar novos tijolos, sempre retos, sem falhas, se a fôrma é velha e gasta, aprendi esta máxima em meus tempos de oleiro.
Como podemos, nós educadores, combater a violência, arrogância, prepotência e outros vícios “capitais” se os jogos eletrônicos fazem dos mesmos atrativos lúdicos, e, que são comercializados nas calçadas, para que os nossos filhos tenham “boas” escolas?
Já dizia, tempos atrás, um guru hippie: “não adianta remendar roupa velha com tecido novo, pois, o remendo irá repuxar todo o tecido”. Gosto muito do que aquele sujeito falou. E, muitos o seguem, pelos menos assim pensam ou se mostram nos templos abarrotados. No entanto, ao saírem de suas orações sentem-se limpos e começam tudo de novo.
Não tenho receitas, nem pretendo concebê-las, nem sei por onde começar, haja visto, o vazio que me encontro. Mas, como estou acordando gostaria de perguntar. Até quando? Vamos fingir que não é conosco? Que está tudo muito bem? Quem poderá responder? Ah! Já sei, o tempo.
Outra coisa que descobri ao fim destas pequenas especulações. Não adianta hibernar e fingir que não é comigo.
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