24 de novembro de 2012

Água potável vira artigo de luxo em municípios castigados pela seca e tem reajuste de até 100% no preço


A seca e o baixíssimo nível de armazenamento nos reservatórios que abastecem os municípios paraibanos fizeram com que o preço da água potável disparasse no interior da Paraíba. A venda do produto se transformou num negócio lucrativo, tanto para o comércio formal, no caso da água mineral, como no alternativo, feito por comerciantes oportunistas que entregam água nas comunidades rurais mais afastadas das cidades. No caso da água mineral, um garrafrão de 20 litros chega a custar mais de 62% do que seu preço normal.

Com venda e lucro garantidos, por tratar-se de um item de necessidade básica em falta, o preço de um carro pipa cheio chega a R$ 200 em algumas regiões do Sertão e em municípios do Vale do Rio Piancó, onde a estiagem é mais agressiva. Em outras regiões castigadas pela seca, como o Cariri paraibano, a situação também se repete. A forma mais vendida, a lata simples, custa R$ 1,50. Mas existem disponíveis também caminhões cheios para abstecer caixas e até cisternas.Nesses casos, a qualidade da água não é garantida pelos fornecedores.

Em comunidades carentes, como é o caso da Vista Alegre, na zona rural do município de Pedra Branca, agricultores se juntaram para adquirir água para abastecer as cisternas. As famílias dizem que no local não chega água distribuída pelo poder público e a única maneira que resta é juntar o pouco dinheiro que têm para comprar água. "Nós conseguimos comprar a R$ 100, mas depois de muita negociação. O preço que pedem por aqui é R$ 200", contou o agricultor Adenilson Nicodemos da Silva, de 74 anos.

Ele disse que conseguiu colocar água na cisterna do sítio Tabuleiro, de sua propriedade por R$ 100 que dará para o consumo da família dele e de um irmão por cerca de 30 dias. "É a alternativa que nos resta. Temos um poço artesiano aqui perto que poderia abastecer as famílias da comunidade, mas a bomba está quebrada e não temos condições de pagar para consertar ou comprar outra", lamenta.

Na mesma comunidade, um grupo de dez famílias também teve que adquirir a água de uma caminhão pipa particular, mas a quantidade só dará para oito dias. Aquelas famílias que têm mais recursos ajudam as mais pobres e que não têm condições de contribuir para a compra da água. Como é o caso da família de dona Damiana Basílio, formada por sete pessoas.

"Nós estamos vivendo com muita dificuldade. Eu, por exemplo, não tenho como sobreviver com a roça porque quando não chove não tem o que colher ou vender. O único recurso que temos é R$ 189 que recebemos do Bolsa Família", conta a agricultora. Ela disse que quando recebe o dinheiro do programa do Governo Federal compra de feira para dar de comer a cinco filhos durante todo o mês. São sete pessoas dependendo exclusivamente dos poucos recursos do Bolsa Família para sobreviver e não tem condições de contribuir para a compra de água, por isso recebem o líquido dos vizinhos que se unem e se ajudam entre si.
A quantidade de água comprada que entra nas cisternas, no entanto, não dá para os animais. dona Damiana contou que terá que soltar uma jumenta que possui porque não tem como alimentá-la e matar a sede do animal que está prestes a parir e terá um fim triste se tiver que ser solta na caatinga. "O que eu posso fazer é pedir ajuda a todos. Quem puder me mande comida e água porque nossa situação é de tragédia", clamou a agricultora.

Em Monteiro, no Cariri, o preço da água mineral disparou de R$ 4,50 para R$ 7,00. "E ainda assim quando encontramos porque está sempre faltando", contou a dona de casa Francisca Marinho. Ela disse que maioria dos estabelecimentos, a água acaba poucos dias depois de chegar, porque a procura é grande e o preço ficou alto. Por isso, ela acabou aderindo à compra de água na porta da casa dela, no sítio Tingui, zona rural do município.

A estiagem e a falta de planejamento dos gestores para lidar com o problema fazem surgir um comércio paralelo de água que não é mineral e que não traz garantias de qualidade. Ela é vendida geralmente em tambores de 150 litros e custa em média R$ 18,00. O produto vendido clandestinamente é usado principalmente para o consumo humano e para cozinhar.

"Se for usada somente para cozinhar e beber, a água de um tambor dá para 8 dias. Caso precise para lavar roupas e limpar a casa temos que gastar mais", contou Dona Francisca.

Um comerciante de água, que não quis se identificar, contou que além do tambor ele vende o produto em lata para quem quiser comprar em menor quantidade. A lata custa em média R$ 1,50. Ele disse ainda que vai buscar a água para vender no município de Ibirim, em Pernambuco, que fica a 110 quilômetros de Monteiro. Com o aumento da procura, ele está trazendo mais de 20 tambores de 150 litros, que acabam em poucos dias. No município de Bernardino Batista, no Sertão do Estado, encher uma caixa dágua custa até R$ 50,00. Um negócio considerado lucrativo para o senhor Antônio Roberto. Ele disse que vai buscar água no município de Cajazeirinhas e traz para vender em Bernardino Batista (a 210 quilômetros).

Com o prolongamento da estiagem, o número de vendedores de água vem aumentando. "Que eu tenho conhecimento são dez caminhonetas que trazem água para vender aqui, mas acredito que a concorrência é muito maior", contou o comerciante.

Além de pesar no bolso num momento em que a situação financeira está mais difícil por conta da estiagem, o consumo de água de procedência duvidosa deve ser evitada por recomendação da Vigilância Sanitária, pois ela pode trazer riscos para a saúde. Caso não tenha opção, a recomendação é ferver e filtrar a água antes de consumir.

Os agricultores que não querem ou não têm condições de comprar água em Bernardino Batista têm que andar quilômetros para pegar água em poços que ainda armazenam o produto. Como é o caso do agricultor Ailton Francisco de Andrade. Ele contou que anda pelo menos dois quilômetros diariamente para buscar água para usar em casa.

A água que encontra, geralmente é de péssima aparência, mas não se pode reclamar quando a escassez predomina. "A nossa situação está muito difícil. Só Deus para nos ajudar, porque não há mais esperança que a ajuda venha dos homens", desabafou o agricultor.

Na Paraíba, segundo levantamento da Agência Executiva Estadual de Águas (Aesa), os mais de 120 mananciais que abastecem os 223 municípios dispõem, atualmente, de 42% de suas capacidades de armazenamento de água.

O secretário de Infra Estrutura da Paraíba, Efraim Moraes, disse que o Estado dispõe 249 carros pipas que abastecem aqueles municípios onde a distribuição de água do Exercito não chega. São 197 cidades com decreto de estado de emergência e conforme Efraim nos municípios que não havia carros pipas distribuindo água foram destinados três veículos.

Nos que tinham um só carro, foram disponibilizados mais dois e onde tinham dois carros foi destinado mais um para que nenhum município ficasse com menos de três carros pipas disponíveis para a distribuição de água.

Quanto aos carros pipas particulares que estão vendendo água, o secretário pediu para que os agricultores anotassem as placas dos veículos para uma eventual investigação com o objetivo de saber se eles são particulares mesmo ou se são aqueles que estão a serviço do Exército ou do Estado.

"As informações serão enviadas para o Comitê Estadual de Fiscalização das Ações de Convivência com a Estiagem para que as denúncias sejam investigadas", concluiu o secretário.

COM REPORTAGEM DO PORTAL CORREIO


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