Quem viveu naquela Cajazeiras cultural da segunda metade da década de 70 e inicio dos anos 80, vai identificar facilmente o personagem central da imagem acima. Ele, Edilson Dias. Ator performático, mambembe e no êxtase de seu desempenho nos palcos por onde pisou; às vezes até anárquico. Defensor assumido de uma dramaturgia alternativa de vanguarda, beirando a José Celso Martinez Correia, numa época onde o teatro amador era o espelho da juventude paraibana, principalmente a do interior do Estado de onde veio Edilson.
Natural de Catolé do Rocha, mas cajazeirense por afinidade, Edilson tinha o poder do convencimento, adjetivo que facilitava o seu envolvimento com o público e com seguimentos do teatro paraibano. E isso o tornava um ator popular. Liderou em sua terra natal a trupe de atores do grupo “Chão Pó Poeira”. Influenciou muita gente boa em “Catolé”, a exemplo daquele que viria ser mais tarde o cantor e compositor Chico César.
A sua aparição em Cajazeiras, se deu quando o mesmo aterrissou nas ruas da cidade juntamente como outros atores de Catolé do Rocha para participar do primeiro curso de teatro para atores principiantes, organizado pela teatróloga Íracles Pires na Biblioteca Pública Municipal. O curso que teve como professores - o ator e diretor Fernando Teixeira; Laísa Derme, Fernando e Elvira Cavalcante, contou com a participação maciça de grupos das principais cidades do sertão. A partir daí, o seu contato com a classe teatral de Cajazeiras o fez mais cajazeirense do que catoleense ou pessoense.
Em João Pessoa, Edilson foi morar em Jaguaribe, bairro que ficou conhecido pelo grande projeto cultural denominado “Jaguaribe Carne”. Passou a conviver com figuras expressivas da cultura pessoense da época, como: Pedro Osmar, Paulo Ró, Unhandeijara Lisboa e Chico César. Bebendo e se fortalecendo do turbilhão artístico popular que era o "Jaguaribe Carne", montou em 1978 o monólogo “Quem é palhaço aqui?” de Pedro Osmar, um sucesso de público e de crítica também.
Os jornais da época deram tanto destaque ao trabalho de Edilson em "Quem é palhaço aqui?" que o ator se popularizou, fazendo apresentações em vários lugares, até em comício de campanha política, como o que aconteceu no bairro Castelo Branco em João Pessoa, onde o Edilson ficou completamente nu em cima do palanque do PT, durante a sua apresentação. O público presente, principalmente os mais conservadores se sentido ultrajado, não entendeu a atitude do ator o fez se retirar as presas do local. Fato como esse viria a se repetir mais uma vez durante a realização de uma das versões do Festival de Artes de Natal/RN. No evento Edilson também tirou a roupa, só que para uma platéia específica de teatro.
Em 1977, o ator Edilson Dias, passou a integrar o elenco de “Um Grupo”. Grupo de teatro criado por Luiz Carlos Vasconcelos, Roberto Cartaxo e Buda Lira, que se tormaria no futuro a raiz da hoje Escola de Teatro Piollin. Na década de 80, montou um texto de sua autoria “Viagem a São Saruê”, baseado no cordel do poeta guarabirense Manoel Camilo dos Santos. O projeto era levar a literatura popular de Manoel Camilo para todas as escolas dos municípios do Estado. Uma idéia bastante interessante, porém arrojada que quase ficou difícil de ser realizada - se não fosse a sua forte perseverança em buscar recursos. Mas por falta de apoio da maioria das prefeituras, poucos alunos ouviram e viram o ator em ação contando a historia do cordel do poeta Manoel Camilo.
Edilson Dias foi um ator além do tempo no elenco de atores do teatro paraibano. Criou, renovou, ousou, influenciou e realizou na sua época algo novo. Por tudo que fez - se faz ainda eu não sei, deve fazer parte da história do nosso teatro.
Do blog Cajazeiras de Amor
Um comentário:
Nenhum ser humano merece ser encontrado nesta situação, porém Edilson Dias já teve várias oportunidades de viver bem aqui na cidade de Brejo do Cruz. Com casa própria, um emprego, e volta e meia com um bom espaço para contracenar nas escolas da sede municipal, passando pro público tudo aquilo que entende sobre poesia/teatro.Tudo veio abaixo por causa de sua personalidade e modo de viver em sociedade. Muito polêmico sempre arrumou confusão com as pessoas, geralmente, com aquelas que mais o ajudavam. É um crítico social que habita um mundo particular, difícil de lhe dá. Não quero vê-lo assim, mas é certo que ele se encontra neste estado porque quer.
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