O esquema de tráfico internacional de drogas comandado pela organização criminosa “Cordão”, no Sertão da Paraíba, pode ter movimentado mais de R$ 70 milhões, em apenas dois anos. Organizações do tráfico como esta, que atuam em todas as regiões do Estado, contam com o “suporte” de autoridades e utilizam rodovias federais, estaduais e estradas vicinais como rotas de entrada e distribuição de drogas, armas e munições.
O esquema desarticulado na última quarta-feira, durante a Operação Hidra, contava com a conivência do diretor do presídio de Patos, do ex-diretor e de cinco agentes penitenciários, que foram presos com mais de 16 pessoas, entre elas, jovens de classe média alta da cidade pernambucana de São José do Egito, que faz divisa com as cidades paraibanas de Teixeira e Ouro Velho.
O tráfico de drogas no Sertão do Estado revela um problema que a Paraíba enfrenta há vários anos: a falta de policiamento nas estradas. As cidades que fazem divisa com outros Estados, como Princesa Isabel, São Bento, Cajazeiras e Monteiro, por exemplo, são encaradas pelos traficantes como “estratégicas” para a prática do crime. As estradas vicinais são rotas do tráfico “anônimas”, que atravessam fazendas, canaviais e localidades onde não há presença da polícia, o que contribui para lucros milionários.
Uma das principais rotas utilizadas por traficantes pernambucanos é através da BR- 361, que começa na cidade de Conceição, divisa da Paraíba com o Ceará e termina em Patos. A rodovia também possui um cruzamento com a PB-374, que dá acesso a Princesa Isabel e faz divisa com o Estado de Pernambuco. Nessas localidades, não existem postos de policiamento.
Outra rota usada por traficantes para ter acesso aos municípios sertanejos é por meio da cidade de Cajazeiras, via BR-230. Segundo o delegado regional do município, Gilson de Jesus Teles, traficantes de São Paulo e de outras regiões do país aproveitam a divisa entre os dois Estados para fazer do Sertão Paraibano rota do trafico e ponto de comercialização de drogas, principalmente maconha, crack e cocaína. Essa BR, por sua vez, é de importância fundamental, tendo em vista que cruza todo o Estado, passando por Patos, Campina Grande e João Pessoa.
BPTran: ações são móveis
O comandante do Batalhão de Policiamento de Trânsito da Paraíba, tenente-coronel Paulo Sérgio de Oliveira Bastos, disse que o policiamento nas rodovias estaduais é feito através de ações volantes, isto é, através de barreiras policiais itinerantes, embora negasse que haja áreas mais preocupantes ou que mereçam maior atenção.
“Todas elas são fiscalizadas. Sendo rodovia estadual, não temos um foco específico. Temos uma companhia de policiamento sediada na Capital, outra para Guarabira, outra em Campina Grande, uma em Patos e, por fim, uma em Cajazeiras. Cada uma delas tem um comandante direto, responsável por organizar as operações nessas regiões, mas a Polícia Militar como um todo dá apoio a esses batalhões”, explicou, acrescentando que, mesmo a polícia de Estados vizinhos participa das ações, bem como a Polícia Rodoviária Federal.
Com relação às estradas vicinais utilizadas pelos traficantes, como estradas de terra em meio a fazendas, por exemplo, o comandante Paulo Sérgio explicou que, nesses casos, não é de competência específica do BPTran, mas sim da PM como um todo. “A abordagem não é somente para o tráfico de drogas, mas também para a apreensão de armas”, disse.
Homicídios
As cidades sertanejas mais afetadas pelo tráfico de drogas são: Conceição, Itaporanga, Piancó, Catolé do Rocha, São Bento, Patos, Sousa, Pombal, Cajazeiras e São José de Piranhas. Nestas cidades, o número de pessoas assassinadas por conta do tráfico é maior do que os registros de obtidos por mortes naturais e acidentes. Segundo o delegado regional de Itaporanga, Gledson Fernandes, tem crescido o número de facções e que 30% das pessoas mortas na região ano passado, tinham ligação com tráfico de drogas.
Com reportagem de Tássio Ponce de Leon, Daniel Motta e Henriqueta Santiago para o Correio da Paraíba
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