31 de março de 2012

Após dor de barriga coletiva, Paraíba vira sensação

Um clube com apenas cinco anos de futebol profissional e uma folha de pagamento bem inferior às dos grandes clubes do estado. Encabeçado por uma "trinca de amigos" que se intitula parceira. Este é o Paraíba Esporte Clube, estreante na Primeira Divisão do Campeonato Paraibano e que, contrariando expectativas, é líder e está sendo considerado a sensação da competição deste ano.

O curioso é que até a quinta rodada da disputa o clube fazia campanha apenas regular, com uma derrota, dois empates e uma vitória. Foi quando aconteceu um fato inusitado. E este fato culminou com a arrancada do time até a ponta da tabela.

Depois do empate sem gols com o Sousa, pela quinta rodada, uma dor de barriga coletiva atingiu o grupo, o que fez com que o time fosse para o jogo seguinte sem fazer sequer um treinamento. Pelo menos 15 jogadores foram afetados pela ingestão de algum alimento estragado - não se sabe qual. Na ocasião, chegou-se a cogitar que o time nem mesmo entraria em campo, por falta de condições dos atletas.

Mas o time recebeu o Treze, até então tido como o principal candidato ao título. Mesmo com os jogadores debilitados, o Tricolor de Cajazeiras venceu por 2 a 1. Desde então, não perdeu mais. Já são sete jogos (seis vitórias e um empate) sem saber o que é ser derrotado.

O Paraíba assumiu a liderança do Campeonato Paraibano apenas na 13ª rodada da competição. Mas o detalhe é que o time tem duas partidas a menos que alguns dos seus principais concorrentes.

Em 11 jogos no campeonato, o Tricolor de Cajazeiras é o time que mais venceu e o que menos perdeu. Até aqui, foram sete vitórias, três empates e apenas uma derrota. O time lidera com 24 pontos, empatado com o Sousa, mas supera o Dinossauro justamente por ter uma vitória a mais que o rival. E o Tricolor é também o dono da defesa menos vazada da competição: sofreu apenas nove gols.

Segredos da diretoria
O presidente do clube, o empresário Tiko Miudezas, é quem dá a receita do sucesso tão meteórico do Paraíba, que em apenas um ano conquistou o título da segunda divisão do Campeonato Paraibano e, na estreia na primeira divisão, já vai desbancando os grandes.

- Primeiramente, a proteção divina. Depois, uma pequena dose de sorte. E, por último, trabalho, muito trabalho.

Dito assim, pode parecer simples, mas o fato é que há muitos aspectos a serem considerados na estrutura montada para fazer um time do interior superar os tradicionais clubes do estado na tabela de classificação.

Segundo o presidente, o time tem uma folha salarial de R$ 100 mil, que, embora esteja bem acima da dos demais times do interior, é muito inferior à das três potências do futebol da Paraíba - Botafogo-PB, Campinense e Treze. O Botafogo, por exemplo, maior campeão paraibano, com 26 títulos, tem uma folha de pagamento que é quase o dobro da do Paraíba: está entre R$ 180 mil e R$ 200 mil.

Nós não somos grandes, nem vamos colocar na cabeça que somos. Tudo aqui é fruto da junção da experiência deste presidente, do Silva Baiano e do Pedrinho"

Treze e Campinense não divulgam oficialmente os valores pagos pelas suas diretorias aos seus elencos, mas os times têm jogadores de renome nacional, como Thiago Cunha e Rone Dias, no Galo, e Warley, na Raposa. O atacante rubro-negro, inclusive, já defendeu a Seleção Brasileira. Ainda assim, mesmo com jogadores menos conhecidos, como Danúbio e Mádson, destaques do elenco, o Paraíba já conseguiu vencer os dois adversários na competição e hoje tem três pontos a mais que ambos.

Para o presidente, o bom momento vivido pelo clube se justifica pela parceria firmada entre ele, o gerente de futebol do clube e ex-jogador Silva Baiano e o técnico Pedrinho Albuquerque.

- Nós não somos grandes, nem vamos colocar na cabeça que somos. Tudo aqui é fruto da junção da experiência deste presidente, do Silva Baiano e do Pedrinho. Estamos trabalhando com humildade e honestidade, e o resultado está aparecendo - frisou o dirigente, que ainda lembrou a participação do ex-técnico do clube, Danilo Augusto, mais conhecido como Baratinha, que comandou o time na vitoriosa campanha da segunda divisão no ano passado.

Tiko ainda informou que 30% da folha salarial do clube são pagos pelo patrocinador master do clube e que alguns jogadores têm seus salários pagos por empresas parceiras. São os casos do meia Júnior Kiboa, do lateral-direito Gustavo e do atacante Mádson, artilheiro do time na competição, com seis gols.

A motivação: o 'bicho molhado'
Além de manter o pagamento em dia, sem qualquer atraso desde o início da temporada, o presidente Tiko Miudezas garante que o compromisso com todos os funcionários do clube é prioridade em sua gestão.

- Não basta pagar o sálario. A gente se preocupa em oferecer uma alimentação e uma hospedagem digna e ter um bom ônibus para as viagens. E aqui tratamos todos de maneira igual. A nossa cozinheira tem a mesma importância que o treinador. Afinal, se ela fizer uma comida ruim, isso pode trazer prejuízos em campo.

Mas uma decisão da diretoria em recompensar os jogadores a cada vitória pode ser a justificativa para tanta dedicação em campo e para os resultados positivos obtidos dentro das quatro linhas. Trata-se do "bicho molhado", que é pago logo depois das partidas em caso de vitória.

- Se vencemos em casa, os jogadores recebem, ainda nos vestiários, R$ 2 mil. Se a vitória é fora de casa, o valor pago aos atletas é de R$ 4 mil - explicou.

Além disso, uma premiação de R$ 40 mil aguarda o elenco do Paraíba em caso de título na primeira fase e outra de R$ 60 mil caso o time vença a segunda. Ou seja, um total de 100% do valor da folha salarial será pago como "bicho" em caso de título de forma antecipada.

Início sob desconfiança
O presidente do Paraíba ainda lembra que, no início da temporada, o comentário que se fazia sobre o clube pela cidade era sempre de desdém. Segundo ele, era quase consenso que o Paraíba entrava no Estadual apenas para cumprir tabela e que o destino do time estava selado: o rebaixamento.

- Fomos motivo de chacota. Gozavam a gente o tempo todo, dizendo que voltaríamos para a segunda divisão logo nesta primeira participação. Vamos seguir com o nosso trabalho sério e honesto. E uma coisa é certa: rebaixados não vamos ser.

Treinador com o time na mão
O técnico tricolor, Pedrinho Albuquerque, que chegou ao clube no início deste ano para a disputa do Estadual, resumiu a atual fase do time na competição destacando que o planejamento do início da temporada já está mostrando resultados.

- As coisas começaram a se encaixar na hora certa, dentro do previsto - destacou Pedrinho, lembrando que, antes de ser apresentado ao clube, conversou com a diretoria, e a meta traçada era a luta pelo título.

O técnico chegou ao Paraíba com o discurso de que não costuma trabalhar só para cumprir tabela. Pedrinho garantiu, no início do ano, que a meta era fazer a equipe campeã e que, a esta altura do campeonato, os jogadores já entenderam a sua filosofia de trabalho. Hoje, o técnico acha que tem o time na mão.

- O pessoal está encaixado dentro das nossas projeções. Mas é um processo gradativo. Uma equipe que começa a mil por hora pode ir a zero daqui a dois segundos. Estamos atentos a tudo e o grupo está correspondendo.

Apesar dos execelentes números, Pedrinho Albuquerque lembra que a competição é longa e que é preciso ter foco para manter a boa campanha e conseguir os resultados planejados no início da temporada.

- Nada está ganho ainda. Desde o início, sabíamos que seria um processo gradativo, lento, paulatino, mas confiávamos que podíamos chegar aonde estamos agora. O nosso objetivo é nos mantermos entre os quatro primeiro colocados, mas ainda resta uma longa caminhada. Vários fatores podem influenciar.

Com reportagem de Cadu Vieira para o Globo Esporte

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